Jornal Pires Rural - Há 13 anos revelando a agricultura familiar

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O convívio entre os homens e os mamíferos na Região Metropolitana de Campinas

Elildo Carvalho Junior do Cenap


Entrevistamos Elildo Carvalho Junior do Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos e Carnívoros), que esclareceu sobre o convívio entre os homens e os mamíferos na Região Metropolitana de Campinas: “historicamente a relação do homem com a fauna tem sido de conflito. Os carnívoros como a onça tem sido visto como ameaça. Nos quase 300 anos de ocupação nessa região, nunca tivemos um ataque de onça às pessoas, mas todo mundo tem medo. Percebemos que apesar de existir o conflito temos que aprender a conviver com ela. Uma das primeiras coisas que temos que saber é que eles precisam de áreas grandes para viver. Com nossas cidades, casas e plantações ocupamos o lugar deles, o que o criador pode fazer estando na área que era da onça? Descartamos a hipótese de eliminar o carnívoro por duas razões; primeiro porque é ilegal e segundo estão em extinção. Mantendo a área de floresta preservadas na propriedade é ter habitat e presas para a onça permanecer lá e diminuir a chance de caçar o rebanho. Por isso é importante proibir a caça de animais silvestres na propriedade como paca, caititu, veado, capivara porque são as presas da onça. Outra medida é cercar a área de mata para que seu animal não entre e também dificulte a passagem da onça até o rebanho. Se for possível fazer um confinamento noturno dos bezerros. Manter animais agressivos como touros e burros misturados ao rebanho”.  Segundo Elildo a onça tem hábitos noturnos, é um animal experto e pode acostumar com medidas rotineiras. Se há relatos de onça na região o proprietário deve variar ao tomar medidas para evitar o conflito com a onça por isso os cães guardiões são úteis para espantá-la com seus latidos, lâmpadas perto dos currais e outras fontes de barulho como rádio de pilha e rojões se você perceber que ela está por perto. O ataque aos animais domésticos é exceção a dieta dela são animais silvestres que estão na floresta.

Encontrando a onça
O pesquisador diz que será “muita sorte” se deparar com uma onça. “É muito difícil, ela não se deixar ser vista, com certeza a onça já viu várias vezes o criador, mas o criador não viu a onça nenhuma vez. Porque ela fica na mata olhando e se percebe que tem barulho se esconde. E as pessoas que eu conheço que viram uma onça, mesmo sentindo medo disseram que foi uma experiência emocionante, porque é um animal selvagem, poderoso”. Elildo cita algumas medidas a serem tomadas; “em primeiro lugar dificilmente ela vai atacar, o que pode acontecer é ela fugir ou ficar parada observando curiosa. Precisamos manter a calma, não fugir, porque para onça quem foge é a presa, além disso, o homem tem o dobro da altura de uma onça, então parecemos um gigante, se possível levante os braços parecendo maior, assim ela não percebe o homem como uma presa. Não se abaixe, não vire as costas, fique olhando de frente, se tiver criança junto, ponha no colo do adulto e se for se afastar vá andando pra trás encarando o animal. Você também pode tomar uma atitude ameaçadora para se impor diante dela como bater palmas ou gritos. Se ela continuar em sua direção deixe-a passar sem dar as costas. Isso deve ser o suficiente para onça ir embora e evitar um ataque. Caso ocorra o ataque, que a chance é nula, lute com ela com socos, murros, mordidas e chutes. Temos que usar a nossa melhor arma que é o cérebro”, explica o especialista.

Conviver é preciso

As onças são animais de topo de cadeia que ainda estão ameaçadas. O desequilíbrio ecológico favorece o aparecimento de problemas de saúde pública como é o caso da febre maculosa, a onça nos presta um serviço ambiental, chamado serviço ecossistêmico. A presença da onça ajuda a manter um ambiente mais equilibrado, controlando populações de capivaras, lebres e outras espécies, evitando danos econômicos à lavoura além dos relacionados à saúde publica e zoonoses.

[Matéria publicada originalmente na edição 129 do Jornal Pires Rural, 02/05/2013 - www.dospires.com.br]


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