Elildo Carvalho Junior do Cenap
Entrevistamos Elildo Carvalho Junior do Cenap (Centro
Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos e Carnívoros), que esclareceu
sobre o convívio entre os homens e os mamíferos na Região Metropolitana de
Campinas: “historicamente a relação do homem com a fauna tem sido de conflito.
Os carnívoros como a onça tem sido visto como ameaça. Nos quase 300 anos de
ocupação nessa região, nunca tivemos um ataque de onça às pessoas, mas todo
mundo tem medo. Percebemos que apesar de existir o conflito temos que aprender
a conviver com ela. Uma das primeiras coisas que temos que saber é que eles
precisam de áreas grandes para viver. Com nossas cidades, casas e plantações
ocupamos o lugar deles, o que o criador pode fazer estando na área que era da
onça? Descartamos a hipótese de eliminar o carnívoro por duas razões; primeiro porque
é ilegal e segundo estão em extinção. Mantendo a área de floresta preservadas
na propriedade é ter habitat e presas para a onça permanecer lá e diminuir a
chance de caçar o rebanho. Por isso é importante proibir a caça de animais
silvestres na propriedade como paca, caititu, veado, capivara porque são as
presas da onça. Outra medida é cercar a área de mata para que seu animal não
entre e também dificulte a passagem da onça até o rebanho. Se for possível
fazer um confinamento noturno dos bezerros. Manter animais agressivos como
touros e burros misturados ao rebanho”. Segundo
Elildo a onça tem hábitos noturnos, é um animal experto e pode acostumar com
medidas rotineiras. Se há relatos de onça na região o proprietário deve variar ao
tomar medidas para evitar o conflito com a onça por isso os cães guardiões são
úteis para espantá-la com seus latidos, lâmpadas perto dos currais e outras
fontes de barulho como rádio de pilha e rojões se você perceber que ela está
por perto. O ataque aos animais domésticos é exceção a dieta dela são animais
silvestres que estão na floresta.
Encontrando a onça
O pesquisador diz que será “muita sorte” se deparar com uma
onça. “É muito difícil, ela não se deixar ser vista, com certeza a onça já viu
várias vezes o criador, mas o criador não viu a onça nenhuma vez. Porque ela
fica na mata olhando e se percebe que tem barulho se esconde. E as pessoas que
eu conheço que viram uma onça, mesmo sentindo medo disseram que foi uma
experiência emocionante, porque é um animal selvagem, poderoso”. Elildo cita algumas
medidas a serem tomadas; “em primeiro lugar dificilmente ela vai atacar, o que
pode acontecer é ela fugir ou ficar parada observando curiosa. Precisamos
manter a calma, não fugir, porque para onça quem foge é a presa, além disso, o
homem tem o dobro da altura de uma onça, então parecemos um gigante, se
possível levante os braços parecendo maior, assim ela não percebe o homem como
uma presa. Não se abaixe, não vire as costas, fique olhando de frente, se tiver
criança junto, ponha no colo do adulto e se for se afastar vá andando pra trás
encarando o animal. Você também pode tomar uma atitude ameaçadora para se impor
diante dela como bater palmas ou gritos. Se ela continuar em sua direção deixe-a
passar sem dar as costas. Isso deve ser o suficiente para onça ir embora e
evitar um ataque. Caso ocorra o ataque, que a chance é nula, lute com ela com
socos, murros, mordidas e chutes. Temos que usar a nossa melhor arma que é o
cérebro”, explica o especialista.
Conviver é preciso
As onças são animais de topo de cadeia que ainda estão
ameaçadas. O desequilíbrio ecológico favorece o aparecimento de problemas de
saúde pública como é o caso da febre maculosa, a onça nos presta um serviço
ambiental, chamado serviço ecossistêmico. A presença da onça ajuda a manter um
ambiente mais equilibrado, controlando populações de capivaras, lebres e outras
espécies, evitando danos econômicos à lavoura além dos relacionados à saúde
publica e zoonoses.
[Matéria publicada originalmente na edição 129 do Jornal Pires Rural, 02/05/2013 - www.dospires.com.br]
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