O caminho da Fé, idealizado por
Almiro Grings é de aproximadamente 400 km , saindo de Tambaú, SP até o Santuário de
Aparecida, SP, atravessando a serra da Mantiqueira no sul de Minas Gerais por
estradas vicinais de terra, trilhas, bosques, pastagens e asfalto. O objetivo é
proporcionar às pessoas momentos de reflexão e fé, saúde física e psicológica
através do exercício da caminhada, integração do homem com a natureza.
O caminho envolve 19 municípios e
4 distritos com pontos de apoio. São necessários aproximadamente 16 dias,
fazendo uma média de 25 km/dia para percorrer todo o Caminho. Durante todo o
trajeto, o peregrino se hospeda em pousadas credenciadas pela Associação de
Amigos da Fé, que oferece a credencial do peregrino cadastrado (carimbado pelos
pontos de apoio para na Basílica receber o certificado de participação como
Peregrino no Caminho da Fé). Aos municípios por onde passa à rota, a meta é
propiciar maior integração regional, desenvolvimento sustentável com geração de
novos empregos e oportunidades.
Adilson Ruy sempre foi devoto de
Nossa Senhora Aparecida, sua mãe Ignez Campos Ruy, devota fervorosa, mãe de três filhos
suplicava em nome dos filhos para que a Santa rogasse pela saúde dos mesmos e
que os livrasse da Paralisia Infantil. Seus filhos foram abençoados e Adilson
aprendeu com a graça recebida agradecer todos os dias de sua vida.
Já havia participado duas vezes
de romaria até Aparecida com a Comunidade do Divino Espírito Santo. O hábito de
caminhar sozinho nos finais de semana o levou a lançar um desafio para si
próprio, percorrer o caminho da Fé com o objetivo de assistir a missa do Santo
Papa Bento XVI na Basílica de Nossa Senhora Aparecida no dia 13 de maio/07.
“Para percorrer o Caminho da Fé,
é preciso ter resistência física, eu caminhava 15 km por dia nos finais de
semana. A fé não é o suficiente, tampouco o entusiasmo. As paisagens arejam a
mente, acalma, mas é repetitivo. Você dorme e acorda pensando em caminhar, a
chegada só depende de você, mais ninguém. Sozinho, o desafio é não saber o que
encontraremos pela frente, é preciso determinação e coragem”, conta Adilson.
Com uma bagagem pesando 7k, a
camiseta identificando: de Tambaú à Aparecida ao encontro de Bento XVI (cuidado
da esposa Elide Poletti Ruy), Adilson percorreu um dos caminhos mais
importantes de sua vida, reavaliou, superou limites e desafios, conheceu
pessoas, foi acolhido, encontrou paz espiritual, sofreu mudanças de valores,
rezou por si e pelos outros, sentiu dores, ajudou o próximo e passou a acreditar
muito mais nos homens perante Deus.
A própria companhia
“Caminhar 24 km sem encontrar
alguém. Ouvindo o canto dos pássaros, o vento, os animais na estrada. É a hora
do questionamento. Foi um dos trajetos onde encontrei maior fortalecimento, é
você com você mesmo, essa é a diferença do Caminho da Fé sozinho”, afirma.
Acolhimento
Por onde passou Adilson foi
acolhido, nas residências como ponto de apoio as famílias simples oferecem o
que têm de melhor e dispensam toda atenção para o peregrino como convidado de
honra. Na estrada os agricultores gritam seus nomes para que os peregrinos
rezem pelos mesmos. “Fui bem recebido em todos os pontos de apoio por onde
passei, recebido como um membro da família. Na casa de Dona Ditinha, a família
estava de luto, a filha acabara de dar à luz (solteira), a família mesmo
passando por uma série de problemas me recebeu com muito carinho. Cheguei à
noite noutra residência (ponto de apoio) e a dona da casa não estava esperando
peregrinos e não tinha comida suficiente para todos, então a dona da casa nos
deu a chave do carro para irmos até a cidade comprar comida”, conta.
Encontros marcados pela Fé
Adilson encontrou vários
peregrinos pelo caminho como três casais e um Senhor de 62 anos de idade, todos
com a experiência do Caminho de Santiago de Compostela, Espanha, os quais revelaram
que o caminho de Santiago “é um museu a céu aberto, com suas arquiteturas
milenares”, já no caminho da Fé a natureza tem um papel muito mais importante.
Mas o jovem Eduardo foi o companheiro que percorreu grande parte do percurso.
“Uma pessoa que está acostumada a praticar esportes, a correr, e passou por
muitas dificuldades físicas, dor mesmo. Deus me protegeu, eu não tive dor.
Desde o início ficou claro que o meu sofrimento era suportável e eu tinha
dificuldades que podiam ser superadas e foi. Muitas vezes eles queriam desistir
por estarem muito machucados, e o meu papel era de ajudá-los a superar a dor e
ter fé, mas muitas vezes a ansiedade de atingir o objetivo (chegada) pode nos
atrapalhar”, conta.
Súplica
Em Topos do Mogi (início do Rio
Mogi), uma região marcada por subidas e descidas íngremes (a 22 km do próximo município, 4 km de caminhada), o Eduardo
estava precisando se apoiar muito para poder caminhar e muito comprometido
pelos ferimentos, toda aquela situação estava me envolvendo muito porque eu
queria fazer algo que pudesse ajudá-lo a superar e seguir, era importante para
mim que ele também conseguisse atingir o seu objetivo. Foi naquele momento que
eu entrei na igreja e foi muito forte, pedi para que Nossa Senhora “carregasse”
o Eduardo porque aquele trecho seria um dos lugares mais bonitos do Caminho.
Quando eu saí da igreja eu não o encontrei. Ele havia conseguido andar
novamente mesmo machucado. Quando eu o encontrei ele me falou: “Alguma coisa
aconteceu quando você estava na igreja”, conta emocionado.
A chegada
“Eu não sabia se chorava,
agradecia. A sensação de ter atingido o objetivo depois de meses de
planejamento e poder assistir a celebração de Sua Santidade o Papa e estar no
mesmo local é uma sensação inexplicável. Cada vez mais eu tenho certeza de que
os desafios que ocorrem na minha vida seja no trabalho, na família, na vida
pessoal, eu vou enfrentar, porque viver é um desafio e temos que estar
preparados pra isso. As imagens do Caminho da Fé se fazem presentes todos os
dias, porque todos os dias um peregrino está acordando para andar. Todo o
trajeto do Caminho teve um forte significado de conceitos na minha vida. Hoje
eu enfrento as dificuldades diárias com muito mais coragem, menos ansiedade, e
muita ponderação do que realmente vale a pena pra mim.” conclui.
Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos.
Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…
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