Palestra proferida durante o Fórum Permanente de Meio
Ambiente e Sociedade, com o tema: "Avanços e Desafios da Política Nacional
de Resíduos Sólidos", realizado na Faculdade de Tecnologia – FT/ UNICAMP,
em Limeira, pela pesquisadora Elizabeti Yuriko Muto do FUNDACENTRO.
A profissão de catador de material reciclável é reconhecida
apesar de ser uma atividade informal. Não se sabe quantos são no Brasil. Há uma
estimativa do IPEA de 400 a 600 mil, 10% dos catadores estão ligados às
cooperativas, na maioria mulheres com salário médio de R$ 520,00. A estimativa
da produção de resíduos familiar e público chega 1 kg por habitante/dia de
resíduos reciclados em 2012. Em 2011 aumentou em 50% a quantidade de resíduos
reciclados. Embora o Brasil ocupe lugar de campeão de reciclagem, na verdade,
isso reflete na condição social.
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Pesquisadora Elizabeti Yuriko Muto do FUNDACENTRO |
A política nacional de resíduos sólidos ficou por 20 anos no
Congresso. Aprovada em 2010, tem como prioridade a participação dos catadores
na gestão do resíduos sólidos. Cada município terá que elaborar um plano de
manejo desses resíduos com os catadores através da responsabilidade
compartilhada do ciclo de vida dos produtos.
A logística reversa de alguns produtos considerados perigosos
coloca importadores, comerciantes, produtores como responsáveis pelo ciclo de
vida de produtos como: agrotóxicos e embalagens, pilhas e baterias, óleos
lubrificantes, lâmpadas fluorescentes e produtos eletroeletrônicos.
Em 2007 foram vendidas 169 milhões de lâmpadas
fluorescentes. O maior produtor é a China. Em 2009 a produção foi de 3,65
milhões de lâmpadas, a maior parte para exportação. O fato das lâmpadas
fluorescentes conter mercúrio tem provocado várias preocupações a nível mundial
de todos os produtos de processos industriais que fazem uso do mercúrio,
incluindo a mineração.
No estudo de Elizabeti Yuriko Muto ela diz: "A
quantidade de mercúrio presente na lâmpada fluorescente corresponde a 1%.
Parece pouco. Se considerarmos 180,4 toneladas/ano é muito. A evolução do
quanto existe de mercúrio numa lâmpada não está especificado na embalagem.
Apesar de haver a diminuição de mercúrio por lâmpadas, a quantidade de lâmpadas
aumentou, são 5 milhões de toneladas, aumento provocado pela propaganda na
troca de lâmpadas incandescentes por fluorescentes com a promessa de diminuir o
gasto de energia, o efeito de gás estufa no ambiente, sempre relacionado com a
sustentabilidade”.
Na prática as cooperativas não podem receber lâmpadas. Não é
um material reciclável. As cooperativas recebem materiais, quando vão
selecionar acham lâmpadas fluorescentes, muitas vezes estouram e liberam
mercúrio para o ambiente. Cada espécie de mercúrio tem um comportamento no
ambiente e no organismo. O mercúrio é um metal extremamente volátil, vaporiza
muito rápido facilmente absorvido no pulmão, niposolúvel, o alvo é o sistema
nervoso central e rins. Toxidade do mercúrio: no caso de exposição aguda na
forma de vapor vai trazer problemas respiratórios (falta de ar, bronquite e
pneumonia). O mercúrio das lâmpadas são facilmente absorvidos pela derme.
Quando atinge o sistema nervoso central afeta a coordenação motora, sistema
renal, sistema cardiovascular, sistema imunológico e reprodutor.
Como podemos quantificar o risco dos cooperados e catadores
ao manipular lâmpadas fluorescentes? Normalmente as cooperativas trabalham com
uma média de 50 pessoas, maioria mulheres, 8 horas por dia, 5 dias por semana.
As mulheres trabalham na triagem do material que chega, os homens descarregam o
material, ambos revelam tipos de riscos diferentes. Os barracões apresentam
ventilação precária, não tem local adequado para armazenagem de lâmpadas e
eletroeletrônicos. Elizabeti contou que
"para calcular os riscos tenho que considerar dois aspectos: o perigo e a exposição.
Perigo: a toxidade do mercúrio em quantidade muito pequena é muito perigoso.
Segurança: é variável a quantidade de mercúrio por lâmpada pode chegar a 100
miligramas, quando é quebrada libera em forma de vapor, outra quantidade fica
no vidro e é liberada aos poucos, num ciclo de uma semana. Em 8 horas, 1/3
desse mercúrio foi liberado", afirma.
Elizabeti quantificou em sua pesquisa que “Por dia são
quebradas 20 lâmpadas em uma cooperativa. Considerando que 1/3 do mercúrio é
liberado no ar, 20 lâmpadas multiplicamos por 7 miligramas de mercúrio dividido
por 1500 m³ (área estimada do galpão), o resultado é de 0,0093 miligrama de
mercúrio por m³. O risco de 0,0093 miligrama m³ comparado a 0,0053 miligrama m³
(concentração de referência) é 124 vezes o nível de exposição do trabalhador ao
metal, sem considerar que o mercúrio não está distribuído igualmente” revelou.
Isso significa que a analise de risco por contaminação de mercúrio (Hg) pelos
catadores indica que a concentração de mercúrio resultante da quebra de 20
lâmpadas supera o limite de exposição estabelecido pela NR-15 e por outras
agencias regulamentadoras.
Segundo Elizabeti incluir os catadores na logística
reversa, “eles não estão preparados porque não passam por treinamento, não
fazem uso de equipamentos de proteção individual”. A recomendação da
pesquisadora para a população é fazer uma sensibilização com os catadores, uma
campanha de conscientização envolvendo todos os setores, pois desconhecem o
ciclo de vida dos produtos de risco.
Capa da edição 140 do Jornal Pires Rural
[Matéria publicada originalmente na edição 140 do Jornal Pires Rural, 18/10/2013 - www.dospires.com.br]
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