Jornal Pires Rural - Há 13 anos revelando a agricultura familiar

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

"Em 30, 40 anos não teremos a vida como hoje"

Fórum discute Economia Verde e suas possibilidades

Prof. Dr. Edmundo Gallo, da Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz – Rio de Janeiro)



Aconteceu no último dia 14, na Unicamp, o fórum para discutir as bases da Tecnologia Social, suas interações e conceitos de Economia Verde para o desenvolvimento sustentável na construção de uma sociedade mais democrática, inclusiva e igualitária.
A Conferência "Ecologia política, economia e desenvolvimento sustentável", realizada pelo Prof. Dr. Edmundo Gallo, da Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz – Rio de Janeiro), trouxe a síntese da ameaça à vida no planeta. Pela primeira vez na história da humanidade, a ação do homem ameaça a vida. Trata-se de algo muito significativo porque é um acontecimento único na história do planeta, temos que estar atentos para essa possibilidade real, caso não tomemos medidas importantes e radicais, estamos fadados a ver um planeta sem a vida de hoje.
Essa conclusão se reflete em vários indicadores, como a "Pegada ecológica indica, estamos consumindo quase duas vezes a capacidade de recuperação de vida do planeta; se continuarmos nessa velocidade em 30 ou 40 anos não teremos a vida como nós entendemos hoje. Os dados do Brasil nos situam na média mundial, ainda que a nossa condição de recuperação seja significativamente maior que a maioria dos países, isso quer dizer que não temos a menor condição de manter esse modelo de consumo e produção, as formas de organização social, econômica e política sem condenar a vida no planeta como um todo", afirma prof. Gallo.

Ecologia, economia e ciência
Para enfrentar essa situação tanto do ponto de vista teórico como prático, é necessário tomar como referencial a ecologia política, a economia ecológica, e a ciência crítica. “O contexto que estamos vivendo hoje, envolvem discussões sobre a agenda pós 2015, quando encerra os objetivos do ciclo de desenvolvimento do milênio. Trata-se de uma agenda comum de ação para a transformação em um "mundo melhor". Como a agenda depende da gestão das Nações, envolvendo os governos, limita suas próprias possibilidades dentro de um determinado contexto. A agenda de interesses dos países já é distinto, e no caso do Brasil há uma série de contradições. Dentro dos limites institucionais de uma Nação como a nossa", expõe prof. Gallo. Os objetivos do milênio incluem a construção de uma série de aprendizados e a percepção de que realmente é possível transformar. Em paralelo foi construído o ciclo da sustentabilidade econômica; acabar com a pobreza no mundo; empoderamento de jovens e mulheres (equidade de gênero); educação de qualidade; garantia de vidas saudáveis; garantir segurança alimentar; acesso universal à água e saneamento; energia sustentável; gestão de recursos naturais; garantir as instituições e boa governança; sociedades estáveis e paz; ambiente global para catalisar os esforços globais. “Podemos pensar que, com essas propostas daqui três anos estaremos todos resolvidos e salvos! Triste engano! É necessário definir a agenda pós 2015”, avaliou o prof.
"Vivemos num mundo de disputas de projetos. Numa hegemonia do capitalismo, as propostas não sobrepõe o modelo de produção e consumo que aí está. A ameaça à vida que vivemos é muito maior que aquela que os trabalhadores viveram nos primórdio da Revolução Industrial. Hoje a ameaça está distribuída globalmente, para todos, desde um mega empresário até o morador de rua. Naquele momento a força de trabalho estava sendo sufocada ameaçando inviabilizar o capital e teve como resposta um conjunto de políticas sociais. Hoje, nós temos propostas. A pergunta é: como vamos viabilizar, nos organizar para enfrentarmos a ameaça à vida?", observou prof. Gallo.

O capitalismo foi planejado a longo prazo.
"As grande corporações planejam o estar no mundo para os próximos 30 anos. Conseguem retirar da matriz de risco oportunidades como o desenvolvimento sustentável, a matriz de oportunidade. A economia verde é produto de 15 anos de planejamento. A China não está na ponta da economia verde por acaso, sim por deliberação, ações intencionais. A grande vantagem da economia verde restringe a reconhecer que o modelo de produção e consumo proposto pelo capital é uma ameaça à vida. Só!”, destaca Gallo.
“Se quisermos contrapor ao poder de influência e planejamento, materialização do planejamento ao poder precisamos de capacidade idêntica ou maior. Nossa grande vantagem está na mobilização social, na utopia de saberes, porém enfraquecido por não ter uma unidade ideológica definida como antes na história: ou você era capitalista ou comunista, isso não existe mais. É preciso um único projeto contra-hegemônico, sistematizado, apresentado como diálogo, mostrar a viabilidade para ganhar ressonância social aprofundado em redes de articulação como o capital. Vamos tentar novas racionalidades de produção e organização de consumo? Se optarmos pela economia verde, estaremos contribuindo com o capital. È preciso apelar para a ecologia dos saberes, produzir o que seja legítimo, efetivo, transforme a vida das pessoas. Neste sentido, pode pensar a tecnologia social como apropriação radical da tecnologia convencional, porque as tecnologias propostas não são suficientes para devolver a estabilidade do homem no planeta terra", conclui. 




Capa da edição 136 do Jornal Pires Rural


[Matéria publicada originalmente na edição 136 do Jornal Pires Rural, 16/08/2013 - www.dospires.com.br]



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