Jornal Pires Rural - Há 13 anos revelando a agricultura familiar

quinta-feira, 27 de junho de 2013

É preciso conhecimento para obter sucesso na comercialização.

ENTREVISTA

A olericultura está crescendo como uma opção aos pequenos citricultores do município de Limeira. Tanto se prega que o pequeno produtor deve optar por novas culturas ou diversificar, que muitos estão apostando. O que poderia ser considerado um potencial econômico para a agricultura do município poderá vir a ser uma grande frustração.  Marcos Souto Urso, engenheiro agrônomo, comerciante, considera que 90% dos produtores que apostaram na olericultura não estão preparados tecnicamente. Atualmente, os produtores têm recebido a visita e apresentação de vendedores ávidos por comercializar produtos, tornando a relação tendenciosa, ou seja, o Estado (seja através da Cati) e município através da secretaria de Agricultura e Abastecimento não atuam, o produtor se torna vulnerável economicamente.

JPR: A olericultura é uma boa opção para os pequenos citricultores?
Marcos Urso: A olericultura é muito mais complexa do que a monocultura da laranja. O manejo da cultura é menor em área. Por exemplo, tem produtor produzindo hortaliças com dificuldades numa área de 500 m² o que não acontecia numa área de 30 alqueires de laranja, acontece que as hortaliças, o nível de cuidados com as doenças é muito maior, os cuidados teriam que ser triplicados.
 Com a laranja o produtor faz aplicação de acaricida uma vez por mês, na horta é necessário aplicar três vezes na semana. Eu percebo que eles (produtores) estão perdidos. A monocultura da laranja foi muito bom economicamente para o pequeno produtor comparado a outras culturas que exigiam grandes áreas como a pecuária, cana de açúcar. O bom rendimento da laranja no passado deixou o produtor acomodado para acompanhar o mercado, planejar a produção. É preciso conhecimento para obter sucesso na comercialização.

JPR: Por que o produtor não enxerga os riscos?
Urso: Quando o produtor faz a retirada do pomar e arrisca plantar abóboras porque já plantava no pomar e tinha bom resultado sem ataque de pragas, o plantio de abóboras sem planejamento e manejo adequado leva a perda total do plantio pelo ataque de pragas. O produtor tinha a impressão de que era fácil plantar abóboras porque as pragas "enxergavam" somente o pomar. Conheço um produtor que plantou abóboras na área total da retirada do pomar e a mosca branca acabou com tudo.

JPR: O produtor está precisando de apoio técnico?
Urso: Tinha-se a impressão de que seria fácil. É muito mais complexo que a laranja do ponto de vista comercial. É preciso orientar e assistir os produtores rurais, a Cati , Secretaria da Agricultura  e Sindicato Rural Patronal, Senar, deve e pode fazer esse papel para alavancar esse potencial que é a olericultura para o município de Limeira . Esse é o papel do Estado e do Município.
Cada produtor tem uma receita. Conheço casos de que o alface estar com 20 dias e o produtor aplicar minercal. O alface quando está pequeno mesmo que jogue um defensivo o volume de cauda é muito menor, o produtor gastaria muito menos e é o momento que a planta está mais suscetível. Depois que a planta atingiu o desenvolvimento, a água bate no defensivo, corre por fora e não protege a planta. O produtor joga muito mais água, muito mais defensivo à toa, desperdiça dinheiro. O produtor é uma empresa que não têm retorno financeiro.

JPR: Na ausência do Estado e Município, a quem o produtor está recorrendo?
Urso: Os produtores de hortaliças têm recebido a visita de vendedores que ficaram marginalizados pela crise da laranja, comerciantes oferecendo soluções milagrosas, mal intencionados.  Produtores do bairro do Pinhal têm organizado palestras com representantes comerciais sem credibilidade no mercado. Uma das palestras que eu assisti, não fiquei até o final porque não valia a pena. A palestra era altamente tendenciosa. A situação comparava uma bamectina que não combate a lagarta com lagarticida. O palestrante comparava lagarticida com bamectina que é acaricida. Não comparava o produto dele a outro lagarticida. Os produtores não perceberam que abriram espaço para uma palestra tendenciosa.
Os vendedores têm metas a cumprir. Quando o vendedor compara lagarticida com acaricida está tentando vender, somente. Já falei para a família que organiza essas palestras escolherem melhor os parceiros. A empresa é boa, o produto também. Mas, não é essa a forma de apresentar produtos num momento de transição de cultura. Os horticultores antigos não estão aptos a esse tipo de material. As palestras são finalizadas com churrasco, uma festa.

[Matéria publicada originalmente na edição 126 do Jornal Pires Rural, 20/03/2013 - www.dospires.com.br]

Marcos Souto Urso, engenheiro agrônomo


Capa da edição 126 - Jornal Pires Rural

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