Evento inserido no calendário agrícola nacional, a esperada
Semana da Citricultura realizada nas dependências do Centro de Citricultura
Sylvio Moreira mostra a cada ano o potencial
do setor citrícola no Estado de São Paulo.
Agora, em 2008,
durante a primeira semana do mês de junho, produtores, pesquisadores e empresas
do segmento puderam novamente se encontrar e participar das homenagens, debates
e ainda comemorar os 80 anos de existência do centro de pesquisa.
Dentre os temas, a fitossanidade foi amplamente discutida e
o alerta sobre o greening (HLB) foi mais uma vez enfatizado. Sua proliferação
continua pelos pomares e durante o evento foi reservado um dia inteiro para
debates em torno do tema.
Buscando manter os moradores da área rural sempre bem
informados, o Jornal Pires Rural entrevistou o pesquisador do Centro de
Citricultura Dr. Dirceu de Mattos Jr., engenheiro agrônomo, que em 2006 foi
homenageado durante a Semana de Citricultura pelas atividades de destaque na
sua vida profissional voltada à citricultura. (O prêmio de engenheiro agrônomo
destaque 2008 foi para Geysa Ruiz, que atualmente coordena a supervisão das
ações no combate ao greening pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) de
São Paulo). Leia a seguir trechos da entrevista do Dr. Dirceu de Mattos Jr.
Jornal Pires Rural:Com o passar dos anos, qual o grau de
importância desse evento?
Dirceu de Mattos Jr: A citricultura é uma atividade
responsável por grande parte da pauta econômica em nosso país. Exigindo que a
produção seja eficiente, demanda-se mais informações e a cada ano essas
informações são renovadas aqui dentro do fórum da citricultura. As palestras, a
exposição das empresas, instituições e serviços são um complemento.
JPR: O Centro de Citricultura trabalha em parceira com os
viveiristas?
Dirceu de Mattos Jr: Historicamente o Centro é responsável
pelo fornecimento de material genético para a citricultura. Aqui,
desenvolvemos, criamos, avaliamos e transformamos variedades de citros. Esse
material faz parte do programa de Certificação de Produção de Matrizes que é utilizado
pelos viveiristas para produzir um material de alta qualidade sanitária e genética. Essa é a principal relação do
Centro de Citricultura com o setor. Outro, cumprindo seu papel de centro de
ações durantes abriu-se espaço para diversas associações ter-nos como um braço
de apoio. Mesmo trabalhando em prol do Estado de SP, sabemos que nossos
resultados têm reflexos em outros estados, como Pará e Goiás, e paises como
México e Argentina, como exemplo.
JPR: Como o Centro de citricultura se comporta diante do
diagnóstico atual das plantas adultas?
Dirceu de Mattos Jr: Digo que estamos num momento desafiante
para a citricultura. Hoje, sofremos um dos problemas mais sérios que é o
aparecimento do greening (HLB). Doença causada por uma bactéria e constatada
recentemente na citricultura brasileira. O resultado do aparecimento do
greening já aumentou o custo de produção e está exigindo estratégias cada vez
mais técnicas. Com o greening agindo nos pomares temos que manter a guarda
bastante alta para que se reduza os prejuízos.
JPR: Vivemos uma década ruim para a citricultura ou chegou a
hora da seleção natural; restarão os melhores e mais capazes?
Dirceu de Mattos Jr: A seleção sempre existiu. Quer seja pela
pressão econômica, pelo custo, pelo valor pago pela indústria ou pela
ocorrência de pragas como leprose, morte súbita, amarelinho, o cancro cítrico.
Esse quadro todo demanda muito esforço e ebergia para produzir eficientemente.
E, aqueles que não têm capacidade e, competência para produção eficiente acabam
saindo do mercado como sai também a fábrica de pneus, de carros, entres outras.
JPR: É impossível produzir uma qualidade de muda resistente
a essas pragas?
Dirceu de Mattos Jr: Esse é um trabalho realizado ao longo
da existência do Centro de Citricultura. A busca de materiais de alta qualidade
genética e tolerante a doenças. Já tivemos sucessos em alguns momentos e
vivemos trabalhos intensos para chegar a novas qualidades resistentes a outros
problemas. É que pela característica de uma cultura perene demanda tempo 10, 15
anos.
JPR: Existe algum país que pode ser concorrente do Brasil?
Dirceu de Mattos Jr: Os EUA têm a Flórida, é o segundo
principal produtor de laranja. Enquanto o Brasil produz cerca de 350 milhões de
caixas de laranja, eles estão na faixa média de 150 milhões de caixas. A China
tem uma área muito grande na produção de citros, porém, não destina a produção
de suco e a produtividade é muito baixa. Outros países como Marrocos, Espanha,
Itália também são voltados para frutas de mesa. A África do sul é um país
importante na produção de citros mas o volume de produção é menor que os EUA.
Somando Brasil e EUA temos 50% da produção mundial. Toda a nossa produção de
suco é exportada rumo à Europa e ainda discute-se a abertura de mercados
Asiáticos.
Ainda que o greening seja o gargalo do setor, não existe
outro país que vai atingir o patamar tecnológico e expressão de produção de
suco concentrado como o nosso.
JPR: O greening e outras doenças está afetando a produção de
citros?
Dirceu de Mattos Jr: Com o “pacote greening” agindo, não
estamos criando novas áreas, mas renovando bastante os pomares. Não existe uma
expectativa de quebra de safra relacionada com a renovação de pomares. O que
pode ocorrer numa quebra de safra está mais ligado ao clima favorável ou não do
que pela falta de árvores no campo. Afirmo que é prioritário o combate ao
greening, porque, se cochilar, cachimbo cai.
JPR: O mercado de mudas cítricas está aquecido?
Dirceu de Mattos Jr: É certo que demanda um número maior de
mudas, mas o setor não diz que teve um crescimento tão grande. Em todo o Estado
chegamos ao número de 500 viveiristas. Nosso patamar de produção de mudas varia
de 10 a
15 milhões de plantas anuais.
JPR: Pra finalizar, conte um pouco dos oitenta anos do
Centro de Citricultura?
Dirceu de Mattos Jr: O centro primeiramente foi criado como
estação experimental, em 1928; ao longo dos anos foi crescendo. Passaram por
aqui diversos técnicos que, com suas experiências, enfrentaram diversos
problemas e passaram o bastão. Um marco na história foi o ano de 1993, que, de
estação experimental, passou a ser Centro de Citricultura com novos
pesquisadores contratados permitindo um crescimento em termos de informação e
produção. Hoje em dia, com a qualidade dos ensaios nas pesquisas, investimos na
implantação do sistema de qualidade ISO/IEC 17025:2005 e estamos finalizando
documentos para obter a certificação ISSO 9001:2000 para todos os processos de
gestão executados pelo Centro de citricultura.
Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos. Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…
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