Fórum discute Economia Verde e suas possibilidades
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Prof. Dr. Edmundo Gallo, da Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz – Rio de Janeiro) |
Aconteceu no último dia 14, na Unicamp, o fórum para
discutir as bases da Tecnologia Social, suas interações e conceitos de Economia
Verde para o desenvolvimento sustentável na construção de uma sociedade mais
democrática, inclusiva e igualitária.
A Conferência "Ecologia política, economia e desenvolvimento
sustentável", realizada pelo Prof. Dr. Edmundo Gallo, da Escola Nacional
de Saúde Pública (Fiocruz – Rio de Janeiro), trouxe a síntese da ameaça à vida
no planeta. Pela primeira vez na história da humanidade, a ação do homem ameaça
a vida. Trata-se de algo muito significativo porque é um acontecimento único na
história do planeta, temos que estar atentos para essa possibilidade real, caso
não tomemos medidas importantes e radicais, estamos fadados a ver um planeta
sem a vida de hoje.
Essa conclusão se reflete em vários indicadores, como a
"Pegada ecológica indica, estamos consumindo quase duas vezes a capacidade
de recuperação de vida do planeta; se continuarmos nessa velocidade em 30 ou 40
anos não teremos a vida como nós entendemos hoje. Os dados do Brasil nos situam
na média mundial, ainda que a nossa condição de recuperação seja
significativamente maior que a maioria dos países, isso quer dizer que não
temos a menor condição de manter esse modelo de consumo e produção, as formas
de organização social, econômica e política sem condenar a vida no planeta como
um todo", afirma prof. Gallo.
Ecologia, economia e ciência
Para enfrentar essa situação tanto do ponto de vista teórico
como prático, é necessário tomar como referencial a ecologia política, a
economia ecológica, e a ciência crítica. “O contexto que estamos vivendo hoje,
envolvem discussões sobre a agenda pós 2015, quando encerra os objetivos do
ciclo de desenvolvimento do milênio. Trata-se de uma agenda comum de ação para
a transformação em um "mundo melhor". Como a agenda depende da gestão
das Nações, envolvendo os governos, limita suas próprias possibilidades dentro
de um determinado contexto. A agenda de interesses dos países já é distinto, e
no caso do Brasil há uma série de contradições. Dentro dos limites
institucionais de uma Nação como a nossa", expõe prof. Gallo. Os objetivos
do milênio incluem a construção de uma série de aprendizados e a percepção de
que realmente é possível transformar. Em paralelo foi construído o ciclo da
sustentabilidade econômica; acabar com a pobreza no mundo; empoderamento de
jovens e mulheres (equidade de gênero); educação de qualidade; garantia de
vidas saudáveis; garantir segurança alimentar; acesso universal à água e
saneamento; energia sustentável; gestão de recursos naturais; garantir as
instituições e boa governança; sociedades estáveis e paz; ambiente global para catalisar
os esforços globais. “Podemos pensar que, com essas propostas daqui três anos
estaremos todos resolvidos e salvos! Triste engano! É necessário definir a
agenda pós 2015”, avaliou o prof.
"Vivemos num mundo de disputas de projetos. Numa
hegemonia do capitalismo, as propostas não sobrepõe o modelo de produção e
consumo que aí está. A ameaça à vida que vivemos é muito maior que aquela que os
trabalhadores viveram nos primórdio da Revolução Industrial. Hoje a ameaça está
distribuída globalmente, para todos, desde um mega empresário até o morador de
rua. Naquele momento a força de trabalho estava sendo sufocada ameaçando
inviabilizar o capital e teve como resposta um conjunto de políticas sociais.
Hoje, nós temos propostas. A pergunta é: como vamos viabilizar, nos organizar
para enfrentarmos a ameaça à vida?", observou prof. Gallo.
O capitalismo foi planejado a longo prazo.
"As grande corporações planejam o estar no mundo para os próximos 30 anos. Conseguem retirar da matriz de risco oportunidades como o desenvolvimento sustentável, a matriz de oportunidade. A economia verde é produto de 15 anos de planejamento. A China não está na ponta da economia verde por acaso, sim por deliberação, ações intencionais. A grande vantagem da economia verde restringe a reconhecer que o modelo de produção e consumo proposto pelo capital é uma ameaça à vida. Só!”, destaca Gallo.
“Se quisermos contrapor ao poder de influência e planejamento, materialização do planejamento ao poder precisamos de capacidade idêntica ou maior. Nossa grande vantagem está na mobilização social, na utopia de saberes, porém enfraquecido por não ter uma unidade ideológica definida como antes na história: ou você era capitalista ou comunista, isso não existe mais. É preciso um único projeto contra-hegemônico, sistematizado, apresentado como diálogo, mostrar a viabilidade para ganhar ressonância social aprofundado em redes de articulação como o capital. Vamos tentar novas racionalidades de produção e organização de consumo? Se optarmos pela economia verde, estaremos contribuindo com o capital. È preciso apelar para a ecologia dos saberes, produzir o que seja legítimo, efetivo, transforme a vida das pessoas. Neste sentido, pode pensar a tecnologia social como apropriação radical da tecnologia convencional, porque as tecnologias propostas não são suficientes para devolver a estabilidade do homem no planeta terra", conclui.
Capa da edição 136 do Jornal Pires Rural
[Matéria publicada originalmente na edição 136 do Jornal Pires Rural, 16/08/2013 - www.dospires.com.br]
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