Jornal Pires Rural - Há 13 anos revelando a agricultura familiar

terça-feira, 21 de abril de 2015

Artesãos fazem viola com cheiro

Artesãos famosos em nossa região, os Fontana, como são conhecidos em Artur Nogueira, onde residem, são verdadeiros mestres na arte de fazer manualmente instrumentos de corda. Se tornaram luthier pelo fato de “ terem a veia musical” e pela fixação de fabricar o próprio instrumento.
Há cinco anos atrás, Jair Fontana procurou pelo luthier  Tião na cidade de Cosmópolis para fazer um pedido de uma viola. Seu Tião é uma pessoa que fazia instrumentos “rudimentarmente na ponta do canivete” como dizem. “Quando pedi para ele construir uma viola fui acompanhando seu trabalho aí despertou a vontade de construir o meu próprio violão”, conta Jair.


Jair Fontana, é o músico e também  responsável pela qualidade sonora dos instrumentos produzidos. 

Como o pai dos Fontana tem uma madeireira, Jair consultou Tião para saber que tipo de madeira usar na construção do instrumento. “Ele me ensinou que deveria usar jacarandá e cedro que tínhamos aqui e que foi a forma de pagamento dessa viola”.
De tanto perguntar Tião acabou deixando Jair levar uma forma de violão para tentar a sorte e disse-lhe: “Você vai conseguir, já mexe com madeira e é músico, vai lá”.
Chegando em casa todo entusiasmado Jair convidou seu irmão José Fontana para “dar uma força”. Relembra José, “vamos lá então, quero ver como ele faz”. Aí voltaram em Cosmópolis na casa do Tião.
Segundo eles o primeiro violão “saiu certinho, afinado. Talhamos o braço, montamos o corpo naquela forma do Tião. Só compramos as partes de metal, como tarraxas e parafusos. O primeiro nos motivou a fazer outros. Saiu meio pesadão porque não tínhamos a manha, mas o som ficou bom”, disseram.
Hoje, eles já desenvolveram a própria técnica fazendo formas para violas e violão e até se arriscaram, recentemente, em fazer uma para cavaquinho.
Como Jair é o músico, ele é o responsável pela qualidade sonora dos instrumentos produzidos. Segundo ele existem vários fatores que influenciam no som. Exemplo o tamanho do bojo (corpo) pela quantidade de ar dentro dele, a espessura e qualidade da madeira. Explica que “a madeira usada tem que ser muito seca, estar no mínimo 20 anos serrada e guardada. O que faz vibrar o som no instrumento é a madeira. A idéia é criar uma caixa de ressonância máxima. A espessura influencia também porque se for Gross ela dará um som agudo e se for fininha ela soa grave. E o segredo do luthier, está em criar o leque harmônico que fica no tampo pelo lado interno do corpo”. Esse “leque” é composto por diversos sarrafinhos de madeiras colados em diversas direções que distribuem o som por todo o bojo do violão. A engenharia para explicar o funcionamento é basicamente 10 cordas, no caso da viola, presas em um “cavalete” e no braço. Puxando, fazendo força. Embaixo o leque estável distribui o som. Se não for bem feito o tampo estufa ou racha. É tudo encaixado, não tem prego e nem parafuso. Por isso é muito difícil desmonta-lo. Outro detalhe que se destaca nos trabalhos artesanais é a característica da madeira ser maciça, diferente das usadas nas linhas de produção de instrumentos de larga escala.
Para fazer um instrumento os irmão só trabalham quando o tempo esta seco. Ao todo leva-se 2 meses para ficar pronto. Usam 99% de madeira importada como o maple canadense mas o tampo tem que ser exclusivamente de abeto alemão,  por ser uma madeira leve, porosa, macia e principalmente vibrante. Como se trata de madeiras de primeira linha como cedro canadense, também utilizado, pode-se baratear usando madeiras brasileiras como a caxeta ou cedro vermelho basta ser macia e vibrante.

Orgulhosos do trabalho estar dado certo, eles exibem o primeiro violão

Os irmão Fontana são gratos ao maestro José Vitor, arranjador e compositor que desenvolve trabalhos em estúdios de gravação de São Paulo, produzindo artistas de renome do meio musical. José Vitor foi o maior divulgador dos instrumentos feito pelos irmãos. “Foi através dele que conhecemos a maior parte dos artistas como por exemplo, o cantor Daniel que já encomendou várias violas nossas, para presentear tanto José Vitor quanto amigos músicos”, relata os Fontana. “Conhecemos o José Vitor através de uma irmã dele que mora aqui em Artur Nogueira. Fizemos uma viola para ele e quem acabou comprando foi o Daniel, que inclusive nos ligou encomendando outra que foi parar nas mãos de Bruno e Marrone. Conhecemos também Gino e Geno e o Mazinho Quevedo. Aquela viola que ele se apresenta no festival “Viola de  todos os cantos” foi feita por nós. Mazinho também trouxe uma equipe de reportagem da Rede Globo aqui em casa para fazer uma matéria que já passou em diversas retransmissoras regionais da Globo, até no Mato Grosso”.


Viola Fontana
Os luthiers contam que cada cliente tem as suas exigências, às vezes trazem a madeira na mala, além dos modelos de sonhos imaginados. Pelos relatos um dos clientes que mais exigiu da dupla foi o Mazinho Quevedo, “ele exigiu principalmente na qualidade do som. A distancia que o som se propaga no “spectro sonoro com interface musical” (brincam). O tamanho da caixa, a largura do braço. Foi super criterioso. A viola que pediu, saiu até com as iniciais de sua assinatura. A escala é de madrepérola. Mas a principal característica dessa viola é a madeira usada; o sassafrás. Ela tem um cheiro característico e é usada para dar sabor nas cachaça. E dessa vez ela deixou a viola cheirosa”.

Orgulhosos do trabalho estar dando certo, eles exibem o primeiro violão (pesado como chumbo) feito por eles e agora estampa o autografo do sertanejo Daniel.



Matéria publicada originalmente na edição 35 Jornal Pires Rural, 20/02/2007-www.dospires.com.br]

Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos. 
Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…

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