Alcides Rolfsen
Fomos até o bairro Campos Salles
em Cosmópolis visitar os produtores rurais Alcides Rolfsen e Karl Kadow para
ouvirmos um pouco de história local e a trajetória de luta pelo desenvolvimento
rural local. O bairro Campos Salles tem uma história peculiar, surgiu
praticamente com a cidade, com a família Nogueira e sofreu seus tempos de
glória com a estrada de ferro Funilense/Sorocabana. Na época, a instalação da
Usina Ester, com tantos empreendimentos para a época final de 1800,o município
recebeu do governo do estado um modelo de “reforma agrária”, o qual consistia
na venda de áreas de 5 a
7 alqueires (localizados próximo á estrada de ferro) para produtores rurais e o
que é mais inusitado, um centro técnico (chamado campo de experiências) para dar
“assessoria” para os produtores rurais, filhos de europeus recém chegados na
cidade.
Muitos descendentes de europeus
não se adaptaram às condições da cidade, aqueles que permaneceram construíram a
escola, o salão de festas. Segundo o produtor rural Karl Kadow, as famílias
luteranas freqüentavam a igreja de Confissão Luterana no bairro dos Pires em
Limeira. “A certidão de batismo da minha tia é da igreja dos Pires”, conta
Karl.
O bairro foi grande produtor de
cana-de-açúcar até passar por crise no setor até a década de 70. “Meu avô
cultivava cana-de-açúcar pelo sistema de quotas, os produtores realizavam o
corte e até transportavam toda a produção para a usina. Até um certo ponto,
quando começou a crise com o sistema das grandes indústrias na agricultura
(agronegócio) ditarem os preços da produção”, conta Acides .
Depois da crise do preço da
cana-de-açúcar, os produtores do bairro começaram a diversificar as produções
de novas culturas como o algodão. “Na época, a empresa Teka investiu numa
unidade na região e era muito prático o escoamento da produção. Hoje não temos
produtores de algodão no município”, conta Alcides.
“A produção de cana-de-açúcar foi
tão importante para o bairro que em 1955, fundaram a Associação dos produtores
de cana-de-açúcar e meu pai, Bruno Alberto Kadow foi um dos presidentes da
Associação”, conta Karl.
Embora o modelo de “reforma
agrária” da época fosse um negócio muito bom para os produtores rurais, alguns
daqueles que adquiriram terras não conseguiram quitar suas prestações e precisaram
vender suas terras.
O produtor Karl vive basicamente
da produção de hortaliças, milho, laranja e caqui comercializados na feira
livre do município.”Cultivar caqui é uma tradição da minha família que me
acompanha desde o meu avô, que, quando adquiriu terras em Cosmópolis começou
sua produção com frutas como uvas, laranjas” conta Karl.
O produtor Alcides produz laranja
e goiaba e mantém um comércio.
Com tamanha tradição agrícola o
município conta com 230 propriedades rurais e com o tempo passando e as
dificuldades do setor acompanhando os produtores. Em 2004, os mesmos foram
incentivados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas-
SEBRAE através de um projeto do Sistema Agroindustrial Integrado- SAI.
“Através de um curso de capacitação,
e um técnico para trabalhar conosco, formamos a Associação dos Produtores
Rurais com o objetivo de comprarmos e vendermos em conjunto, com 30 produtores”,
lembra Alcides.
Mas a formação da Associação não
aceleraria a produção, tampouco supriria todas a necessidades dos associados. O
município havia rompido convênio com o Estado e portanto não dispunha dos
serviços da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral –Cati. “Ficamos na
pendência da Casa da Agricultura e nos encontramos na mesma situação, sem um
impulso para projetos, estamos lutando há quatro anos para que o município
entregue a reforma do prédio porque o convênio já foi assinado e publicado no
diário oficial”, afirma Alcides.
Para o produtor Karl, a
assistência da Cati para o produtor rural familiar faz muita falta,
principalmente nos momentos de dificuldades econômicas. “Eu senti falta da Cati
quando eu estava passando por dificuldades financeiras e precisava do Pronaf ,
eu precisava do laudo para anexar ao pedido de financiamento, então me
orientaram procurar a Cati de Artur Nogueira porque é o acesso que temos nas
dificuldades e sempre somos atendidos, mas naquele pedido foi difícil. Nessa
oportunidade eu tive o primeiro contato com o Escritório de Desenvolvimento
Rural de Mogi Mirim e, por telefone eles me orientaram para conversar com o
prefeito de Cosmópolis para resolver o problema, eu tentava, sem sucesso”,
desabafa Karl.
Quando falam em planos para o
futuro depois das conquistas de formar o Conselho, a Associação, conquistar a
formalização do convênio com o Estado e esperar pela entrega do prédio, o
futuro ainda parece muito distante, uma luta árdua de organização,
encaminhamentos com mais acertos do que erros parece ter desgastado o sonho e a
comemoração das conquistas. A única frase que vem à boca de Alcides e Karl é
“Vamos esperar a abertura da Casa da Agricultura para fazermos planos próximos
da realidade”.
Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos. Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…
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