Nem só de Greening vive a citricultura paulista. É preciso
mostrar que existem outras novidades acontecendo. Uma delas é o recém-lançado projeto
de pesquisa, coordenado por Rodrigo Rocha Latado engenheiro agrônomo e
pesquisador do Centro de Citricultura (Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC), que
estuda laranjas de polpa sanguíneas e vermelhas desde sua qualidade agronômica,
nutricional, produção de fruta, suco e seu potencial de mercado.
Para melhor compreender a razão desse estudo conversamos com
o autor desse estudo que nos explicou como foi sua pesquisa iniciada pela
curiosidade quando esteve na Itália. Assim ele nos conta, “Quando estive em um
congresso na Itália, me deparei com cartazes nos comércios divulgando laranjas com
polpa de tons fortes de vermelho, as chamadas laranja sanguíneas. Até então, eu
nunca tinha visto essa variedade. Foi aí que minha curiosidade aumentou e virou
objeto de pesquisa”.
Rodrigo explica que não se desenvolve variedades de laranjas,
porque não se consegue cruzamento, as diferentes laranjas vão surgindo através
de mutações. Rodrigo disse que essa variedade de laranjas só existe lá pelo
clima frio propicio para elas. “O clima no mediterrâneo é quente no verão e
frio no inverno. Pode ser que a centenas de anos apareceu essa espécie e alguém
foi reproduzindo. A coloração da polpa dessas laranjas é “roxo vinho”, bem
escuro”, contou.
Trabalho de campo
“Quando voltei ao Brasil”, conta Rodrigo, “fui consultar as
espécies de laranjas italianas do BAG (Banco Ativo de Germoplasma) do Centro de
Citricultura, e encontrei espécies sanguíneas e de polpa vermelha, que estão
aqui há quase 40 anos. Só que existem dois fatores um deles é que elas ainda
não têm uso comercial e outro, elas não apresentam a mesma coloração de polpa
como as cultivadas na Itália. E o objetivo do estudo é torná-las comercialmente
viáveis aqui no Brasil”.
Pesquisando artigos e analisando as frutas Rodrigo descobriu
trabalhos que diziam que era possível completar o número de horas de “frio”
para a laranja mudar a coloração da polpa. “Como a única tentativa de cultivo
com essas variedades foi feita em Campos do Jordão (SP), uma região muito fria,
não deu certo. Imaginei então, cultivá-las em uma região quente, colher o fruto
e mantê-lo em câmeras frias o tempo de horas/dias necessárias para a coloração
da polpa ficar roxo avermelhado e pronta para abastecer o mercado com uma nova
variedade”, explicou o pesquisador.
Desde 2005, Rodrigo vem trabalhando nessa pesquisa e as variedades
que apresentaram melhores resultados ele formou quatro pomares pelo estado de
São Paulo para avaliar o comportamento delas no campo. “O resultado da
coloração das frutas cultivadas aqui no estado está excelente. A minha idéia é
poder colocá-las no mercado, assim como na Europa existe o suco de laranja
sanguínea, teremos a opção das brasileiras”, disse.
Qualidades nutricionais
A laranja é conhecida como uma importante fonte de vitamina
C para a alimentação humana. As laranjas sanguíneas podem ser descritas como
fonte de antocianinas na polpa e no suco da fruta. As antocianinas têm grande
importância na dieta humana, pois participam na constituição de cores e sabores
dos alimentos e podem ser consideradas também como agentes terapêuticos. As
laranjas de polpa vermelha contêm alguns dos principais carotenóides, o
licopeno e os carotenos, esses apresentam funções nutricionais e medicinais,
sendo que o licopeno aparece atualmente como um dos mais potentes agentes
antioxidantes naturais, sendo sugerido na prevenção de carcinogênese e
aterogênese, devido a sua capacidade de proteger moléculas, inclusive o DNA, da
ação de radicais livres.
Cadeia citrícola
A agroindústria do setor já tem conhecimento da pesquisa de
Rodrigo e baseado em dados de sua tese, expomos aqui alguns números desse mercado;
Com grande parte de sua produção voltada ao mercado externo, a cadeia citrícola
traz anualmente mais de US$ 1,5 bilhão em divisas para o Brasil, sendo um dos
principais produtos na balança das exportações. A agroindústria brasileira
detém a liderança mundial na produção de laranjas, de suco de laranja
concentrado congelado (SLCC) e de suco de laranja NFC (Not from concentrated),
representado mais de 80% das exportações mundiais de suco.
Segundo os dados da Secex, anualmente o Brasil tem aumentado
os volumes exportados de suco de laranja NFC (Not from concentrated),
resultando também em maiores receitas. Numa análise do país verifica-se que o
Estado de São Paulo é o maior produtor brasileiro de laranjas com 80% da
produção, seguido de Bahia (4%), Sergipe (4%) e Minas Gerais (3%).
Consumo do Brasil
Um dos principais problemas da cadeia comercial da laranja
brasileira é o baixo consumo no mercado interno de frutos e do suco in natura.
No ano de 2002, por exemplo, apenas 17% do total de frutos produzidos foram comercializados
no mercado interno. A agroindústria brasileira tem grande interesse na seleção
e lançamento de novas variedades de laranja doce que tenham aptidão para o
consumo como fruta de mesa e/ou para a produção de suco NFC. O que resultaria
também numa maior diversificação de variedades para a citricultura Brasileira. Dentro
desse quadro se encaixa perfeitamente o projeto de pesquisa de Rodrigo Latado:
“A qualidade de frutos e de Suco de Laranjas de Polpa Vermelha e Sanguíneas”.
Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos. Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…
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