Uma forte chuva atingiu o
bairro dos Pires na noite do dia 4 de dezembro. No Pires de cima muita lama
correu pela pista e invadiu até tanques de armazenagem de água. Nos Pires de
Baixo a chuva e os ventos puseram abaixo a estufa que estava no início do
cultivo de hortaliças no sistema hidropônico. Para tentar analisar o que
de fato ocorreu com essa estufa, mostramos as fotos ao professor Fernando Sala (foto abaixo),
especialista no cultivo de hortaliças da Universidade de São Carlos, do
Departamento de Biotecnologia e Produção Vegetal e Animal, do Centro de
Ciências Agrárias (CCA), do campus da cidade de Araras.
Baseado nas fotos, Fernando
nos respondeu alguma perguntas, tirando dúvidas e orientando com dicas para a
montagem de uma nova estufa. Confira abaixo;
Jornal Pires Rural: Qual foi o principal erro na construção dessa estufa?
Fernando Sala: Na construção
dessa estufa foi usada madeira não tratada. Sugerimos fazer o uso de madeira
tratada ou de ferro galvanizado. Além disso, aconselhamos procurar um lugar da
propriedade "menor incidência" de ventos. Se há local com
quebra de vento natural, minimiza o problema.
Jornal Pires Rural: Existe
uma maneira “caseira” de construir uma estufa e o que se deve levar em
consideração?
Fernando Sala: Pode ser
feita de forma caseira sim, usando inclusive madeiras e ou bambu como arco, para
colocar na proteção ao invés de arco de metal. Porém, deve ser muito bem feita,
adotando práticas que evitem o desabamento com pouco vento. O fato importante
aqui, é que pode ser "caseira", porém, deve partir de uso de materiais
mais específicos e com uso de quebra vento ou local de menor incidência do
mesmo. Como a estufa é caseira, ela é mais propícia aos ventos.
Analisando visualmente
apenas as fotos, é difícil definir o que de fato ocorreu aí nos Pires. Será que
o problema não foi acúmulo de água sob o plástico? Ou seja, a água foi
empossando sobre o plástico e com o peso, veio abaixo. Parece-me isso. Para
evitar que aconteça novamente sugiro fazer o uso de arcos mais próximos um do
outro e usar o plástico bem esticado para evitar o acúmulo de água sob o teto
da estufa.
Jornal Pires Rural: Qual a
melhor maneira de prender os arcos? Em canos ou em troncos junto ao solo?
Fernando Sala: O ideal não é
prender ao solo. Isso é apenas para túneis baixos de plásticos e não em estufas
altas. A melhor maneira de prender os arcos é em troncos, porém, antes de
prender diretamente no tronco, há um "encaixe de cano" onde o arco
entra.
Jornal Pires Rural: Quanto às
bancadas, elas podem ser de bambu gigante? Existe algo mais prático?
Fernando Sala: Pode, porém
recomendo madeira tratada como usamos aqui no Centro de Ciências Agrárias.
Acredito que a durabilidade do bambu, é pequena e em breve, terá de trocar.
Entretanto, como disse, pode ser usado.
Jornal Pires Rural: O
cultivo hidropônico em bancadas tem alguns segredos, a altura dessas bancadas
referente ao solo influencia no desenvolvimento das plantas?
Fernando Sala: Isso não tem
problema. O ideal é que a queda de água seja em torno de 6 a 9%, ou seja, a
bancada deve ter essa porcentagem de queda. Se o terreno onde foi instalada a
estufa não permite essa inclinação, recomenda-se "cortar a bancada ao
meio" diminuindo seu tamanho.
Jornal Pires Rural: Prof.
Fernando, você tem conhecimento quanto a financiamentos para o agricultor
familiar iniciar o trabalho com hidroponia?
Fernando Sala: Não sei se
existe específico para hidroponia, para estufa sei que tem. Deixo a dica que a
hidroponia poderia vir junto, montado diretamente dentro da estufa.
Jornal Pires Rural: Qual a
recomendação que deixa para agricultores que querem migrar da citricultura para
o cultivo de hortaliças. Qual forma de cultivo é mais indicada: o sistema
hidropônico ou o convencional de canteiros ao ar livre?
Fernando Sala: No canteiro
ao ar livre é mais "fácil", apesar de ter mais perdas. O cultivo
hidropônico exige técnicas mais aprimoradas e o produtor, enquanto não
"aprender" o processo irá depender da consultoria de um engenheiro
agrônomo ou técnico especializado. O cultivo hidropônico é altamente tecnificado.
Isso vai depender claro, do nível tecnológico de cada produtor.
Jornal Pires Rural: Que
importância tem a busca de conhecimento para o agricultor que deseja começar em
uma nova cultura? Por onde começar?
Fernando Sala: A busca por
uma nova cultura por parte do produtor significa que ele quer "mudar e
diversificar" e isso é fundamental e extremamente necessário nos dias de
hoje. A crise da citricultura já era anunciada há anos. Alguns produtores,
prevendo essas mudanças, partiram para a diversificação. Entretanto, isso exige
do agricultor uma postura de “querer mudar”, buscar coisas novas, novas
tecnologias, estar atento as exigências e necessidades do mercado. Acredito que
o “querer mudar” é o primeiro passo, entretanto, para começar a andar, outros
passos precisam ser dados, ou seja, devemos buscar e almejar essa mudança.
Importante destacar que a mudança não é apenas na forma e cultura a produzir,
mas exigirá conhecer o mercado que irá atender qual a forma de comercializar e
ofertar sua produção, levando em conta que haverá concorrentes no setor.
Capa da edição 143 do Jornal Pires Rural
[Matéria publicada originalmente na edição 143 do Jornal Pires Rural, 17/12/2013 - www.dospires.com.br]
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