Intitulado “Limeira: água
preservada, futuro garantido – Fórum Ecológico de Integração Intermunicipal”
aconteceu no Teatro Vitória dia 5 de setembro. É uma contribuição do município
na busca de nova consciência ambiental. O evento reuniu especialistas num
convite à reflexão sobre o uso dos nossos recursos hídricos chamando a atenção
para os cuidados que devemos tomar com o patrimônio aquático do Brasil e do
planeta. Também
compareceram representantes de ONG´s, o presidente da Câmara Municipal, Eliseu
Daniel, o diretor do Ciesp-Fiesp de Limeira, José Luiz Batistella, e empresários,
jornalistas, estudantes universitários, estudantes do ensino médio de Limeira e
de municípios da região. Cerca de 300 pessoas estiveram presentes.
A apresentação esteve a cargo da jornalista Amanda Apple,
da TV Globo.
Tendo como objetivo ampliar
alertas que começam a indicar sinais de gravidade na utilização do patrimônio
aqüífero, como rios, lagos, lagoas e foco dirigido para a educação ambiental, o
fórum foi idealizado
pelo prefeito Silvio Félix, e organizado em conjunto com a concessionária Águas
de Limeira.
Desafios Diários
Primeiro palestrante, o prefeito Silvio Félix agradeceu a
presença de todos e citou alguns projetos realizados pelo seu governo. “O papel
que o poder público tem em se tornar responsável por um planejamento público da
cidade, água, aterro sanitário, proteção de nascentes, tratamento de esgoto, não
dá mais para as prefeituras, governo estadual e governo federal quebrar a cara
com esses assuntos. É preciso que haja empresas que prestem esse serviço e
consorciar o papel da iniciativa privada com o do poder público”, disse Felix.
Mostrando responsabilidade pelo cargo que desempenha o
prefeito citou também que “a Prefeitura não tem concorrentes, isso faz com que
a gente não se encontre. É preciso que tenhamos desafios próprios e diários, porque
tudo avança numa velocidade muito grande, e se não andarmos no ritmo, vamos
cometer dois erros: primeiro o pecado de nosso despreparo e o segundo erro de
não propiciar situações para o desenvolvimento das empresas e dos habitantes”
e, entre os projetos de seu governo falou que “Limeira pode se orgulhar, pois
está proibida qualquer queimada de cana. Brevemente será criada a Secretaria de
Meio Ambiente separada da Agricultura. Temos a construção de três parques
urbanos para a população (no Jardim do Lago, no Parque das Nações e na região
da Hípica). A idéia implantada para Limeira é a urbanização com equilíbrio:
plantio de árvores, podas e limpeza para que a população respeite. Outro ponto
é a recuperação do Riberão Tatu, que parecia impossível para a população e
exigia uma série de medidas custosas. Nas mudanças que fizemos o Ribeirão já
deu boa aparência para a cidade e o nosso projeto termina em 2010 com 100% de
captação e 100% de tratamento do esgoto lançado no ribeirão, além das ações no
ribeirão do Pinhal com recursos financeiros do município e do FEHIDRO para que
a cidade não tenha falta d´água”, salientou Silvio Felix.
Qualidade da Água
O segundo palestrante foi o diretor-presidente da Águas de
Limeira, Fernando Mangabeira Albernaz, que abordou a estrutura da
concessionária e as diversas obras já realizadas e ainda as obras em andamento. A Águas de
Limeira foi a primeira empresa privada a operar os serviços públicos de
saneamento básico, água e esgoto. Há 12
anos, a concessionária mantém o sério compromisso pela gestão dos serviços de
captação, produção e fornecimento de água tratada, além de coleta, afastamento
e tratamento de esgoto e disposição final de lodos.
A Águas de Limeira mudou a
realidade do saneamento básico em toda a cidade, com 92% de aprovação da
população, mantendo números significativos: 100% da população abastecida nas 24
horas do dia, 16% de perdas nas redes de água e ainda 100% de coleta e
afastamento de esgotos, sendo 75% destes já tratados. Preocupada com o uso
racional da água e a formação de cidadãos conscientes, Águas de Limeira se alia
a este importante evento. Segundo o seu o diretor-presidente, “temos que pensar não apenas em ter
água em abundância, mas principalmente precisamos nos preocupar com a qualidade
da água”, afirmou Albernaz.
Reflexão de Especialistas
Outros dois palestrantes, o professor Doutor José Galizia
Tundise, pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, respeitado
cientista brasileiro na questão hídrica e o jornalista da área de meio ambiente Randau Marques, concederam
entrevista gravada exclusivamente pelo Jornal
Pires Rural.
Para o professor Doutor José Galizia Tundise a trilha do caminho
das instituições no âmbito ambiental tem tomado certa relevância, hoje em dia,
pela percepção do setor público e privado ter percebido que é fundamental manter
as bases de recursos naturais preservadas, tanto regional quanto do planeta. “Isso
garante a sobrevivência da biodiversidade e o desenvolvimento socioeconômico do
local”, disse. Tundise salientou que existe um ”vácuo” entre as ações a serem
tomadas por parte de todos, e “existe uma falta de capacidade de execução,
devido à complexidade dos problemas ambientais. É difícil transportar o que é
objetivo, o que é visão de um ambiente mais equilibrado com os mecanismos de
proteção, observação e recuperação das bacias hidrográficas”. Mas Tundise
garante que para o êxito de uma ação, tem de haver a participação ativa na
gestão dos processos por parte da população conjuntamente com o poder público e
privado.
“Nos eventos que eu participo e na experiência que tenho de
usar adequadamente os recursos naturais, dar condições para que a sociedade se
organize e participe das ações de recuperação, observação e manutenção de
sistemas ecológicos tem se mostrado uma saída àquele desenvolvimento a qualquer
preço, desenfreado, comprometendo a falta de sustentabilidade”, acrescentou.
Disse também que desenvolvimento, hoje em dia, está
integrado ao sistema ambiental, margem de recursos naturais, capacidade dos
poderes público e privado em entender como funciona o sistema e sua total
importância. Citou que em nosso país, por ter um passivo muito grande, já existem
algumas regiões com uma percepção ambiental e a organização da comunidade vai
aos poucos se consolidando.
Sobre a questão de nossos recursos hídricos, afirmou ser
verdadeiro o relato de que o Brasil detém 12 % de água do planeta, mas ela está
mal distribuída. “Há muito mais água na região amazônica do que no centro e no
estado de SP. Portanto, em algumas regiões corre-se o risco da escassez. É
preciso dar condições para conservar, preservar e até recuperar sistemas
aquáticos que estão contaminados e não provêm água de qualidade para
abastecimento público e de outras atividades”, comentou. O pesquisador falou que
todo o problema da água está entre demanda e disponibilidade. Em nossa região
há uma média de 1200 mm
por ano de chuva, isso é bem pouco, pois, para controlar a demanda, evitando o
esgotamento, são feitas as campanhas para economia no uso da água, caso contrário,
ela só estará disponível no próximo ciclo hidrológico. “O Brasil ainda não
chegou num colapso de abastecimento, ainda estamos em tempo de evitar isso, na
realidade vai depender muito das ações a serem realizadas. A população deve
participar mais de perto como nos Comitês de Bacias com propostas e sugestões através
do plano de gestão impulsionadas pelas Câmaras Técnicas como as de Saneamento,
Planejamento, Saúde Ambiental ou Educação Ambiental. É preciso formar um banco
de dados no município para que isso gere informações fundamentais para a gestão
dos recursos ambiental e hídricos da bacia. E, o outro ponto é a criação de incentivos
fiscais para aqueles que reduzam o uso da água e a emissão de poluentes”,
ensina Tundise. Ele explica que uma das ações tomadas no trabalho do Instituto
Internacional de Ecologia foi implantar em Bocaina/SP o IPTU ecológico e as Fazendas
d´Água. No caso do IPTU ecológico os bairros promovem atividades em relação ao
meio ambiente, que são analisadas pelo Condema e no final do ano o bairro que obter
mais pontos recebe bônus entre 5% e 10% para abatimento do IPTU. Nas Fazendas d´Água
os produtores são incentivados a conservar o local onde
passa água para abastecimento da população evitando o plantio dessas áreas e
recebendo incentivos como diminuição de impostos.
Randau Marques, jornalista experiente na área ambiental,
que na década de 60 já produzia textos de cunho ecológico, também esteve
presente ao evento e nos relatou o seu ponto de vista para a proteção do meio
ambiente. Leia a seguir entrevista na integra;
Jornal
Pires Rural: Qual era
a reação das pessoas na época das primeiras reportagens?
Randau Marques: Briguei muito com os representantes da Ciesp-Fiesp,
porque eles não admitiam o controle da poluição e a conservação ambiental.
Hoje, isso faz parte da cartilha de todo empresário que vise lucro e não desperdício.
Jornal
Pires Rural: Relatar
esses assuntos, na época foi uma causa pessoal?
Randau Marques: Foi. Naquela época fui preso político por
abordar essa questão. Havia denunciado contaminação com cromo, curtume, chumbo
e mercúrio como catalisador na mineração de ouro. Isso não foi visto com bons
olhos pelos Militares e me levaram preso. Quando saí, não tive dúvidas, resolvi
que iria continuar mexendo com essa área altamente subversiva e estou até hoje.
Jornal
Pires Rural: Existiu
denúncias de exploração industrial?
Randau Marques: Sim. Exposição de trabalhadores a produtos
tóxicos, etc. Hoje mudou muito o panorama. O principal interessado na questão
ambiental, para evitar as “salva-guardas” alfandegárias é o setor industrial. Como
exemplo o álcool brasileiro; quando exportado ele pode estar sendo depreciado
devido às queimadas, então, é de extremo interesse dos usineiros dar fim a
essas queimadas.
Jornal
Pires Rural: Em sua
opinião, os empresários querem sempre ser aceitos como “ecologicamente
corretos”?
Randau Marques: Nem sempre. Existem empresas que são da
velha escola, “o que importa é lucrar a qualquer preço”.
Jornal
Pires Rural: Acredita
que isso pode mudar?
Randau Marques: Sim isso é uma questão de vida ou morte das
empresas. A escassez é que levou o petróleo ser mitificado da forma que é.
Ninguém lava o quintal com petróleo, ninguém desperdiça, usa racionalmente. A
água já chegou ao ponto de escassez, seu preço para o consumidor a transforma
em uma commoditie. Você vai pensar duas vezes em gastar 15 ou 30 min. no banho?
Lavar o quintal esbanjando ou fazer reuso? Haverá uma briga muito grande contra
o governo porque ninguém vai admitir que os rios sejam envenenados da forma que
vem sendo hoje. A questão ambiental veio para ficar.
Jornal
Pires Rural: A
proteção à natureza é um fator econômico?
Randau Marques: Não só isso, é uma questão de saúde pública.
O verde não é protegido por causa de sua cor, dos pássaros, das borboletas, é
uma relação custo – beneficio. A proteção se dá por conta da sanidade dos
alimentos, porque se vier uma praga e o antídoto estiver na biodiversidade, o
preço dos alimentos se tornará proibitivo para todo mundo. O combate às
queimadas não é apenas pela estética das ruas, mas por conta dos hidrocarbonetos
poli-aromáticos que são altamente cancerogênicos. A prioridade que tem que se
dar é na questão da saúde pública.
Jornal
Pires Rural: De que
forma a população, além de eventos como esse, pode se manifestar?
Randau Marques: não permitindo as coisas. O prefeito
certamente eliminou as queimadas depois de ouvir a população e constatar que
seria uma medida altamente simpática. A população tem que saber que a questão ambiental
é fundamentalmente uma questão de saúde pública. Apoiar os órgãos ambientais
mesmo parecendo uma morosidade em apurar os fatos, os laboratórios demorarem a
processar resultados, mas não se trata de má vontade. O exemplo está na CETESB
(Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental) ser uma estrutura impar entre a que nós possuímos no
estado de São Paulo. A legislação básica de controle (Lei 997 e 8468) são
indicadores de saúde pública e são os critérios que a CETESB se baseia. Não
existe a CETESB em âmbito nacional, não existe controle da poluição ambiental
no Brasil, essa é a minha briga pela criação de um órgão de estrutura no
governo federal. Isso deveria ter um salva-guarda da população.
Jornal
Pires Rural: Como
devemos agir para seguir na bandeira de preservação ecológica?
Randau Marques: Sobretudo é se engajar. O que necessitamos
é que seja respeitada nossa legislação ambiental. É convencer as pessoas que
existe uma relação custo - benefício em tratar a água, o ar e os efluentes. É
focar economicamente voltado para a saúde pública como base de tudo. As
empresas também deveriam pensar assim porque o que elas descartam como
poluentes são matérias-primas. Segundo, elas têm que se tornar eficientes no
mercado de hoje senão, estarão na beira da falência.
O Fórum Ecológico de Integração Intermunicipal de Limeira
foi encerrado com a participação da Camerata da Orquestra Sinfônica de Limeira.
Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos.
Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…
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