"O que os 21 vereadores têm visto (na Câmara)? Não há
sitiantes ou representantes destes que se manifestem contrários (ao
parcelamento irregular). Eu como vereador não posso discutir sozinho."
Assim afirmou o presidente da Câmara de Limeira, Ronei
Martins, em entrevista exclusiva ao Jornal Pires Rural. Ele respondeu as
perguntas referentes à regularização de chácaras, adaptação da lei 357 de 2005
a nova realidade de 2013, o relatório proposto pela Comissão de Assuntos Relevantes, referente às
chácaras irregulares e segundo ele “a correlação de forças na sociedade como um
‘cabo de guerra’, quem vencerá será o lado que tiver mais pressão”.
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Presidente da Câmara de Limeira, Ronei Martins, em entrevista exclusiva ao Jornal Pires Rural sobre regularização de chácaras de lazer. |
Os vereadores integrantes da Comissão de Assuntos
Relevantes, referente às chácaras irregulares, participaram de reunião no
último dia 28 de setembro na prefeitura com moradores, prefeito Hadich e o
secretário de Planejamento Felipe Penedo. O objetivo foi discutir a situação
das chácaras irregulares do bairro Água Espraiada e soluções para resolver o
problema das famílias que residem no local. O secretário de Planejamento,
Felipe Penedo afirmou para o jornal Gazeta de Limeira que a adaptação na
legislação é a proposta para regularizar as chácaras. "Temos que adaptar a
legislação de 2005 para uma nova realidade", afirmou.
Fomos ouvir o presidente da Câmara Municipal de Limeira, Ronei
Martins, a respeito desse assunto, o qual tem chamado a atenção no município
desde a derrubada das casas no bairro Água Espraiada, como ação judicial, pela
prefeitura de Limeira.
JPR: Como você avalia a atitude da Prefeitura Municipal de
Limeira destruir as casas de parcelamento irregular do solo no bairro Água
Espraiada?
Vereador Ronei Martins: A minha postura enquanto agente
político para pressionar os outros políticos que vão tomar essa decisão, porque
não está no âmbito da presidência e do legislativo, está no âmbito da
prefeitura e do judiciário. A minha postura é de combater todo uso e ocupação
irregular na área rural, esta é a regra. Nesta regra tem algumas exceções como
situações que precisam ser identificadas pela vulnerabilidade social dos
indivíduos tratadas de acordo com a dignidade humana. Por exemplo, disseram que
a prefeitura derrubou casas de famílias muito pobres. A prefeitura deve
providenciar um cadastro social que a identifica com dificuldades e
vulnerabilidade social, isso significa transferir as famílias com
vulnerabilidade social antes de derrubar as casas. Não dá pra radicalizar no
seguinte sentido, tem uma liminar, vamos derrubar todas as casas. Isso não
significa que eu tenho passado a mão na cabeça do pessoal do bairro Água
Espraiada. Eu fui visitá-los e disse a eles que cometeram um crime. Essas
pessoas que ocuparam irregularmente devem ser tratadas caso a caso. Há um
conjunto de moradores que não querem sair de lá. Se há impacto ambiental, devem
sair. Se não há impacto ambiental e é possível regularizar (mediante parecer
técnico) optamos pela regularização. Esse assunto tem sido colocado para aqueles
que têm vindo reclamar. É preciso que alguém da área ambiental faça um estudo
criterioso para avaliar os dois eixos: a questão ambiental, a garantia de água
para o futuro. A questão do urbanismo na área rural e a impossibilidade da
prefeitura garantir serviços públicos naqueles aglomerados. Se a gente
(vereadores) regulariza aqueles loteamentos como é que vamos ter garantias de
prover saúde, educação, saneamento, transporte público? O fato é que precisamos
combater o parcelamento irregular na área rural. As pessoas têm dito que o
parcelamento continua acontecendo.
JPR: O número de fiscais disponíveis é o suficiente para
coibir os crimes?
Vereador Ronei Martins: A Secretaria de Planejamento tem
feito uso da tecnologia de georreferenciamento por satélite com atualização
semanal. Os relatórios referentes ao parcelamento irregular são baseados nas
fotos de satélite.
JPR: Em sua opinião as famílias que ocuparam irregularmente
a área rural são vítimas de vulnerabilidade social, especulação imobiliária?
Vereador Ronei Martins: Historicamente a especulação
imobiliária expulsa as famílias de uma moradia digna. Em Limeira, um terreno de
200m² custa R$ 180.000,00. Na área rural as famílias conseguem adquirir de
forma irregular um terreno de 1000m² por R$ 40.000,00. O pobre não tem dinheiro
para comprar uma casa na cidade. Mas somado a outras quatro famílias consegue
juntar os R$ 40.000,00. As pessoas que tem vindo aqui (na câmara) são pobres, na
maioria.
JPR: A Secretaria de Planejamento tem afirmado que a lei 357
de 2005 sobre a regularização de chácaras pode ser alterada para "adaptar
a lei para uma nova realidade" e regularizar os lotes. Qual é a sua
opinião a respeito?
Vereador Ronei Martins: Uma lei é uma norma que rege o
comportamento da sociedade. A lei está submetida e suscetível à pressão
popular. Pode cair e ser revogada, emendada, dependendo do desejo da sociedade
porque nós vereadores (que ditamos as leis) somos influenciados pelo calor,
clima de pressão social pra democracia acontecer. As pessoas submetidas a
situações irregulares as quais querem a flexibilização da lei estão vindo na
câmara todos os dias e o que os 21 vereadores têm visto? Que existe um clima
favorável a mudança da lei porque todos os dias eles vem até aqui para
reclamar. Isso significa dizer que por ventura quem está a favor ou contra não
se manifesta. Quem cala consente. Se não há sitiantes, produtores rurais ou
representantes destes que não se manifestam contrários, nós (vereadores)
ficamos influenciáveis a atender a pressão popular para a mudança na lei. Se os
sitiantes e representantes destes não se organizam para discutir essa questão
como é que eu vereador discuto?
JPR: A lei vigente pode ser alterada?
Vereador Ronei Martins: Eu não sei se é possível alterar
essa lei porque ela pode estar vinculada ao Plano Diretor do município, a
questão seria mais complexa. Se houver possibilidades de alteração na lei e
essa correlação de forças favoráveis na sociedade como um "cabo de
guerra", quem vencerá será o lado que tiver mais pressão ou força popular,
até agora a pressão é somente das famílias que ocuparam áreas de forma
irregular. A Comissão para Assuntos Relevantes da Câmara está trabalhando nesse
assunto e emitirá um relatório sem força de lei o qual será encaminhado para os
organismos competentes como a Prefeitura e o Ministério Público. Somente a
prefeitura poderá encaminhar o projeto para a Câmara, para aprovação. O projeto
não é de iniciativa do legislativo. A competência é do executivo porque diz
respeito a parcelamento do solo e zoneamento da cidade.
Capa da edição 139 do Jornal Pires Rural
[Matéria publicada originalmente na edição 139 do Jornal Pires Rural, 04/10/2013 - www.dospires.com.br]
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