Artesãos famosos em nossa região, os Fontana, como são
conhecidos em Artur
Nogueira , onde residem, são verdadeiros mestres na arte de
fazer manualmente instrumentos de corda. Se tornaram luthier pelo fato de “
terem a veia musical” e pela fixação de fabricar o próprio instrumento.
Há cinco anos atrás, Jair Fontana procurou pelo luthier Tião na cidade de Cosmópolis para fazer um
pedido de uma viola. Seu Tião é uma pessoa que fazia instrumentos
“rudimentarmente na ponta do canivete” como dizem. “Quando pedi para ele
construir uma viola fui acompanhando seu trabalho aí despertou a vontade de
construir o meu próprio violão”, conta Jair.
Jair Fontana, é o músico e também responsável pela qualidade sonora dos instrumentos produzidos. |
Como o pai dos Fontana tem uma madeireira, Jair consultou
Tião para saber que tipo de madeira usar na construção do instrumento. “Ele me
ensinou que deveria usar jacarandá e cedro que tínhamos aqui e que foi a forma
de pagamento dessa viola”.
De tanto perguntar Tião acabou deixando Jair levar uma forma
de violão para tentar a sorte e disse-lhe: “Você vai conseguir, já mexe com
madeira e é músico, vai lá”.
Chegando em casa todo entusiasmado Jair convidou seu irmão
José Fontana para “dar uma força”. Relembra José, “vamos lá então, quero ver
como ele faz”. Aí voltaram em Cosmópolis na casa do Tião.
Segundo eles o primeiro violão “saiu certinho, afinado.
Talhamos o braço, montamos o corpo naquela forma do Tião. Só compramos as
partes de metal, como tarraxas e parafusos. O primeiro nos motivou a fazer
outros. Saiu meio pesadão porque não tínhamos a manha, mas o som ficou bom”,
disseram.
Hoje, eles já desenvolveram a própria técnica fazendo formas
para violas e violão e até se arriscaram, recentemente, em fazer uma para
cavaquinho.
Como Jair é o músico, ele é o responsável pela qualidade
sonora dos instrumentos produzidos. Segundo ele existem vários fatores que
influenciam no som. Exemplo o tamanho do bojo (corpo) pela quantidade de ar
dentro dele, a espessura e qualidade da madeira. Explica que “a madeira usada
tem que ser muito seca, estar no mínimo 20 anos serrada e guardada. O que faz
vibrar o som no instrumento é a madeira. A idéia é criar uma caixa de
ressonância máxima. A espessura influencia também porque se for Gross ela dará
um som agudo e se for fininha ela soa grave. E o segredo do luthier, está em
criar o leque harmônico que fica no tampo pelo lado interno do corpo”. Esse
“leque” é composto por diversos sarrafinhos de madeiras colados em diversas
direções que distribuem o som por todo o bojo do violão. A engenharia para
explicar o funcionamento é basicamente 10 cordas, no caso da viola, presas em
um “cavalete” e no braço. Puxando, fazendo força. Embaixo o leque estável
distribui o som. Se não for bem feito o tampo estufa ou racha. É tudo
encaixado, não tem prego e nem parafuso. Por isso é muito difícil desmonta-lo.
Outro detalhe que se destaca nos trabalhos artesanais é a característica da
madeira ser maciça, diferente das usadas nas linhas de produção de instrumentos
de larga escala.
Para fazer um instrumento os irmão só trabalham quando o
tempo esta seco. Ao todo leva-se 2 meses para ficar pronto. Usam 99% de madeira
importada como o maple canadense mas o tampo tem que ser exclusivamente de
abeto alemão, por ser uma madeira leve,
porosa, macia e principalmente vibrante. Como se trata de madeiras de primeira
linha como cedro canadense, também utilizado, pode-se baratear usando madeiras
brasileiras como a caxeta ou cedro vermelho basta ser macia e vibrante.
Orgulhosos do trabalho estar dado certo, eles exibem o
primeiro violão
|
Os irmão Fontana são gratos ao maestro José Vitor,
arranjador e compositor que desenvolve trabalhos em estúdios de gravação de São
Paulo, produzindo artistas de renome do meio musical. José Vitor foi o maior
divulgador dos instrumentos feito pelos irmãos. “Foi através dele que
conhecemos a maior parte dos artistas como por exemplo, o cantor Daniel que já
encomendou várias violas nossas, para presentear tanto José Vitor quanto amigos
músicos”, relata os Fontana. “Conhecemos o José Vitor através de uma irmã dele
que mora aqui em
Artur Nogueira. Fizemos uma viola para ele e quem acabou
comprando foi o Daniel, que inclusive nos ligou encomendando outra que foi
parar nas mãos de Bruno e Marrone. Conhecemos também Gino e Geno e o Mazinho
Quevedo. Aquela viola que ele se apresenta no festival “Viola de todos os cantos” foi feita por nós. Mazinho
também trouxe uma equipe de reportagem da Rede Globo aqui em casa para fazer
uma matéria que já passou em diversas retransmissoras regionais da Globo, até
no Mato Grosso”.
Viola Fontana |
Os luthiers contam que cada cliente tem as suas exigências,
às vezes trazem a madeira na mala, além dos modelos de sonhos imaginados. Pelos
relatos um dos clientes que mais exigiu da dupla foi o Mazinho Quevedo, “ele
exigiu principalmente na qualidade do som. A distancia que o som se propaga no
“spectro sonoro com interface musical” (brincam). O tamanho da caixa, a largura
do braço. Foi super criterioso. A viola que pediu, saiu até com as iniciais de
sua assinatura. A escala é de madrepérola. Mas a principal característica dessa
viola é a madeira usada; o sassafrás. Ela tem um cheiro característico e é
usada para dar sabor nas cachaça. E dessa vez ela deixou a viola cheirosa”.
Orgulhosos do trabalho estar dando certo, eles exibem o
primeiro violão (pesado como chumbo) feito por eles e agora estampa o autografo
do sertanejo Daniel.
Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos.
Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…
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