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Mesa redonda "Tecnologia Social e Economia Verde – convívios possíveis” |
Abordando a questão da agricultura empresarial que se instalou no Brasil para a produção em larga escala de grãos e cana-de-açúcar, o consumo exagerado de agrotóxicos e a produção de alimentos transgênicos para atender a indústria de agrocombustíveis, etanol e óleo de soja, afirmou que essa agricultura ocupa 60% da área privada no Brasil, mas está na mão de apenas 3% de proprietários e vem exercendo uma prática bastante agressora e impactante em todos os sentidos; ambiental, saúde, social, político, ético, direitos humanos, portanto uma prática totalmente antagônica ao conceito de economia social de agricultura sustentável.
Desenvolvendo ecossistemas sustentáveis
O compromisso de uma agricultura sustentável é abastecimento
e amparo socioeconômico do agricultor, preocupado com estado psicológico e
emocional do cidadão, manutenção da biodiversidade, garantindo a qualidade
ambiental, a qualidade de vida, ante aos recursos naturais, juntamente aos
valores éticos e culturais de todo os setores sociais. Os requisitos para obter
esse desenvolvimento rural sustentável passa pela qualificação da sociedade,
instrução e capacitação do agricultor e sua distribuição no campo. Os agricultores
têm o direito de serem informados, são necessárias políticas públicas para o
desenvolvimento rural sustentável, não apenas da parte do governo, mas sim de
todos os poderes da sociedade (por exemplo, Câmara dos Vereadores) para se
envolver, participar e elaborar ações que devem assumir o compromisso
sustentável de abastecimento, conjuntamente com uma legislação ambiental
funcional.
A agricultura empresarial
Em contra ponto, a agricultura empresarial não surgiu para a
produção de alimentos. Ela veio atender o mercado global, os mercados de
commodities, produzindo matéria prima de exportação para as indústrias
multinacionais. Produz agroenergia, agrocombustíveis, erroneamente chamado de
biocombustíveis ou biodiesel, o correto é dizer agrodiesel, agrocombustíveis. A
agricultura empresarial se baseou em ciências extremamente sofisticadas como
engenharia mecânica, engenharia química com a síntese de moléculas, economia
agrícola de alto nível, biologia genética, houve um investimento científico
muito forte. O prof. Dr. Mohamed Habib expôs que agricultura empresarial é
totalmente dependente de agrotóxicos e antibióticos e “não falam das
consequências geradas na natureza pelo uso desses produtos”. Ele afirmou, “Este
modelo de agricultura dizem que esta sustentando o Brasil. É o agronegócio
brasileiro, exportando grão sem agregação de valor nessa matéria prima. Não
conheço nenhum país desenvolvido que exporta matéria prima, água e energia. O
Brasil exporta os 3. Compare com as exportações da China, veja se exportam
matéria prima, energia ou água”. Mohamed continua “estive nos Estados Unidos,
eles estão proibindo o plantio de qualquer cultura para produzir etanol.
Perguntei por que isso acontece e a resposta foi de que estavam comprando
etanol a cinqüenta centavos por litro e quem produzia ficavam com os litros de
vinhoto e poluentes gerados na produção”.
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Estudo que teve sua colaboração sobre pesquisas de modificações genéticas em animais e plantas |
Tecnologia incompetente
Para afirmar suas colocações, de que estamos na contra mão
de desenvolvimento sustentável, o professor abordou 3 realidades vividas e
comprovadas cientificamente.
O Brasil de 4 anos para cá, é o maior consumidor de venenos
do planeta. A cota de consumo de agrotóxicos está acima de 5 kg para cada
brasileiro. Seis empresas multinacionais controlam 80% da produção desses
venenos. Mohamed fala: “a aplicação desses venenos é uma tecnologia
extremamente incompetente, apenas 0,1% atinge a praga alvo. Ninguém fala para
onde vão 99,9% do veneno. As conseqüências são visíveis; aumento a resistência
aos agrotóxicos, surgimento de novas pragas, efeitos sobre o metabolismo das
plantas, impactos sobre a biota não alvo e efeito na saúde humana e animal”,
exemplificou.
Seleção e melhoramento
O perfil da agricultura empresarial esta sendo cultivar
grandes áreas, sendo excludente socialmente e tratar o solo como um substrato,
tentando tirar dele o máximo de produtividade, trabalhando com variedades
precoces tanto vegetais quanto animais. “Trabalhei intensamente com
pesquisadores do mundo todo e publicamos artigos científicos explicando a
ausência total do princípio de agricultura sustentável na produção de
transgênicos. Outro trabalho acadêmico mostra o impacto do Roundup, da soja e
do algodão transgênicos no desenvolvimento embrionário de humanos e de espécies
vegetais. Além de um estudo publicado em 2012 mostrando a desgraça dos efeitos
dos alimentos transgênicos em comunidades humanas. Temos que evitar esse tipo
de alimento e orientar as pessoas para não consumi-los. Porque será que nas
embalagens aparece um triangulo com um T maiúsculo bem pequenininho? Quem conhece
os malefícios desses produtos precisa atuar nos momentos em que estamos em
contato com a sociedade e explicar o significado das coisas, que os empresários
omitem” incentivou o pesquisador.
A natureza é “burra”
Mohamed citou dois cientistas americanos (Hugh Lovel e
Stefan Mager: GM Food) que relembram a fala do famoso estadista Henry
Kissinger, em 1970, que diz: “quem controla as fontes de alimentos domina as
pessoas”. E o estudo ainda afirma que o caminho para isso é a biotecnologia, a
engenharia genética e o patenteamento das sementes. O professor alerta; “aqui
todas as sementes transgênicas são patenteadas pelas multinacionais. Estamos
falando de uma dominação oculta, não são mais exércitos que entram, é a
economia, o endividamento, o controle do mercado”.
Mohamed explica: “Selecionam os indivíduos que interessam
através de um processo difundido nas universidades chamado seleção e
melhoramento. Porque a natureza é burra. As criaturas da natureza são ruins,
então o homem veio com a genética para melhorar. Eu chamo sempre nas minha aulas
de seleção e “pioramento”. Porque criamos criaturas doentes, malucas que não
tem como enfrentar as adversidades ambientais e pra isso temos que cuidar deles
com insumos e agrotóxicos produzidos pelas indústrias”.
O aparecimento da gripe aviária que está matando os frangos
de granjas, é porque não têm defesas imunológicas, são espécies selecionadas
para desenvolvimento acelerado, de alta produtividade diferente de aves
caipiras de pequenas criações que levam 6 meses para chegar ao tamanho de
abate, enquanto as aves de granjas apenas 38 dias. "Sucesso? Progresso? Foi
melhorado porque a galinha caipira é ruim?"
Agrocombustíveis
Ao abordar o exemplo da produção de agrocombustíveis e o
consumo de energia, Mohamed questionou que os países desenvolvidos trabalham
com previsões da indústria automobilística em manter o automóvel e não em
soluções de um transporte ecologicamente correto. “As estimativas dessa
indústria é produzir 49% dos combustíveis na América do Sul e 35% na África,
somos os quintais para ficar com a sujeira dessa produção e nível trabalho
degradante. Ainda querem nos convencer de que é uma tecnologia limpa, econômica
e eficiente, não falam que impactam o ambiente (queimadas), a saúde (trabalho
no campo pesado e repetitivo), e a sociedade (emigrando trabalhadores de outros
estados)”, disse.
A área está aumentando cada vez mais para o plantio, no
ambiente natural da floresta amazônica, dos canaviais e no cerrado e cerradão
para a soja. “A produção de etanol é 1 litro por metro quadrado, se um carro a
álcool consome 200 litros por mês em um ano será necessário uma área de 2400 m²
para plantio de cana-de-açúcar. Para produzir 1 litro de álcool são necessários
de 600 a 1400 litros de água, entre lavoura e usina e dependendo da região. O
governo ou os usineiros falam isso? É ecologicamente correto e sustentável?
Porque é possível aceitar essa lógica?”, provoca o professor.
Mohamed finaliza dizendo, “hoje, percebemos que o mundo se
salva ou iremos todos para o buraco. E para salvar o mundo precisamos de novas
ciências que integram áreas de conhecimento no mesmo prato, para que possamos
entender o que os efeitos colaterais de uma área da ciência podem causar na
outra. Essa visão de profundo conhecimento é fundamental pra salvar o nosso
planeta”.
Capa da edição 137 do Jornal Pires Rural
[Matéria publicada originalmente na edição 137 do Jornal Pires Rural, 05/09/2013 - www.dospires.com.br]