João Santa Rosa, agricultor, nascido no Centro Rural do
Pinhal, Limeira , foi presidente do Centro Rural do Pinhal e da Comunidade São
José do Centro Rural, presidente do Sindicato Rural Patronal de Limeira nos
últimos três anos. Trabalhou na agricultura até os 40 anos de idade. Segundo
ele, “carregou a bandeira rural” em
busca de soluções de melhor qualidade de vida para os produtores. “Eu acredito
que deveríamos ter a mesma qualidade de vida que as pessoas do perímetro urbano,
como ruas asfaltadas, segurança, praças.
Acredita que somente uma política agrícola sancionada pelo
governo federal pode realmente tranquilizar o mercado agrícola, com a garantia
do preço de custo na produção. Já no que diz respeito especificamente à cidade
de Limeira, o cenário é alarmante . Chega a arriscar que, num prazo de 03 anos,
a área rural de Limeira terá um novo cenário, marcado pela cana-de-açúcar e a
agricultura de subsistência justificado pelo grave problema de renda mínima
para o agricultor limeirense.
Presidente do Sindicato Rural Patronal de Limeira até 2008, entrega
o cargo para o produtor Nilton Picin. “Desejo um bom início de 2009. E,
procurem alternativas viáveis na agricultura, contando sempre com o trabalho do
Sindicato Rural Patronal e o respaldo jurídico que oferecemos”, afirma João Santa
Rosa.
Jornal Pires Rural: São tantos anos na área rural. Uma luta
intensiva para trazer melhorias e dignidade ao homem do campo. O Sr. passou a
“brigar” ou “chorar” por conquistas na área rural?
João Santa Rosa: “Chorar”. Porque esbarrávamos em algumas
questões que estavam longe das possibilidades (do poder público) e sabíamos que
eram viáveis e positivas. Mas, quando chegávamos a um nível mais elevado de
autoridades para solicitar pedidos, havia a desmotivação causada pela burocracia.
Sempre deparamos com muitas dificuldades no que reivindicamos para a área
rural.
Jornal Pires Rural: Quais mudanças significativas o Sr.
acompanhou ou que ainda estão por ocorrer?
João Santa Rosa: Uma mudança que houve e que eu considero
importante, foi o investimento no aumento da qualidade dos produtos agrícolas,
para ser mais específico, na produtividade por área. Se isso não tivesse
ocorrido, não teríamos mais produtores na área rural, porque em 1985, quando eu
comecei a produzir soja, nós conseguíamos produzir no máximo 40 sacas por
hectare. Hoje, com os investimentos em genética e tecnologia, conseguimos 65
sacas por hectare. Esse avanço em alimentos geneticamente modificados, o
aumento da produtividade fez com que o produtor permanecesse no campo por um
período maior.
Uma outra mudança foi o comportamento do produtor rural com
capacitações, investimentos, por acreditar no que estava por acontecer. O que
não houve é uma política agrícola para o país. Infelizmente, cada um (produtor)
quer, plantando de acordo com o preço da safra anterior. Nós devemos plantar
segundo a demanda nacional de cada produto. Porque se o milho teve um bom preço
em 2008 todos querem plantar milho na safra seguinte ocorre a desvalorização do
produto. O Brasil não tem uma política agrícola para incentivar o produtor a
plantar. O governo (federal) tem negado que a produção de cana-de-açúcar não
tem diminuído a produção de grãos. É mentira. Na verdade muitos produtores do Estado
de São Paulo, que tinham áreas de cultivo de laranja, soja, há 03 anos
plantaram cana-de-açúcar em função do preço na época e, hoje voltar ao cultivo
de laranja é inviável. É isso que não pode ocorrer. Porque cada região deve
plantar o que é pertinente ao clima e altitude. Se continuar assim, não teremos
o que comer.
Jornal Pires Rural: O que o Sindicato Rural Patronal tem
feito para que as autoridades respeitem as condições reais da agricultura
brasileira?
João Santa Rosa: Nesses 03 anos como presidente do Sindicato
Rural Patronal, “brigamos” pela política agrícola. Mas, o assunto sempre
esbarra no tamanho do país porque quando o assunto chega em Brasília a
diversidade dos estados acaba implicando cada um “defender” as suas
necessidades e então não vemos resultados positivos. As discussões são setorizadas
na Federação dos Agricultores do Estado de São Paulo – Faesp. Assuntos como a
cana-de-açúcar, o café, a citricultura, são relevantes e levados a Brasília
para a Confederação Nacional da Agricultura – CNA. Pelo menos avançamos nas
discussões dos problemas levando em consideração a realidade do campo, o que
não ocorria. As decisões eram tomadas
sem ouvir representações do produtor. Como por exemplo, “favorecer” o produtor
prolongando o pagamento de máquinas por mais 10 anos, essa determinação ajuda sim
os bancos e empresas de implementos agrícolas continuar vendendo. E o produtor
tem que pagar sua dívida da mesma forma.
O governo (federal) defende o setor que está do seu lado.
Todas as políticas que o governo sancionou foram sem consultar as bases da agricultura,
e sim em nome dos banqueiros com a intenção de diminuir a inadimplência dos
bancos.
O Sindicato Rural tem incentivado os cursos do Senar com o
objetivo de agregar valores dentro da propriedade através da agroindústria para
a agricultura familiar e assentamentos.
Jornal Pires Rural: Os produtores de Limeira já estão
colhendo resultados com as capacitações?
João Santa Rosa: Limeira precisa de uma associação de
produtores rurais e depois atrair o mercado, como a Associação de Orquidófilos
de Limeira.
Nós (limeirenses) sofremos mais por termos sido pioneiros na produção de
laranjas. São mais de cem anos de citricultura. São várias gerações e hoje
temos apenas 30% da produção agrícola e 70% de cana-de-açúcar. Vocês têm andado
pela área rural e têm percebido que os pais estão idosos e cuidando das
propriedades, sobrevivendo e os filhos foram trabalhar na cidade. A minha
família é numerosa, são 10 irmãos e apenas 03 estão na profissão de agricultor,
dos sobrinhos, apenas 02 optaram pela agricultura. As faculdades formam
engenheiro agrônomo, mas não formam agricultores. Ser agricultor é algo nato.
E, ele para para pensar de que é que adianta a sua realização se ele não
consegue suprir as necessidades da sua família.
Jornal Pires Rural: Então qual é a solução?
João Santa Rosa: A solução é formar uma associação com o
gerenciamento técnico do Sebrae em parceria com a indústria e agregar valor
para a produção.
Jornal Pires Rural: A proposta de formar associações é bem
aceita pelos associados do sindicato Rural Patronal?
João Santa Rosa: A dificuldade é justamente essa. Nós
pregamos a importância de uma associação, a diversificação de culturas. Há
pouco tempo fomos procurados por uma empresa para a produção de goiaba.
Compareceram 28 produtores e apenas 02 assumiram, sem adesão mínima, o projeto
não prosperou. A proposta era razoável. O rendimento seria 5 vezes mais que a
produção de laranjas.
Jornal Pires Rural: Qual é o futuro da agricultura em
Limeira?
João Santa Rosa: Eu estou acompanhando a supervalorização da
terra no nosso município e a instalação de grandes empresas na área rural, como
é o caso da rodovia Limeira- Mogi Mirim.
Até 02 anos atrás, pagava-se R$ 40.000,00 por um alqueire de terra. Hoje já se
fala em R$ 100.000,00. Ao se especular esse valor para um alqueire de terra, a
agricultura acabou. O produtor pode vender suas terras e ir embora.
Limeira terá cana-de-açúcar em terrenos com topografia plana
para mecanização e as demais propriedades terão agricultura de subsistência ou
vão ser transformado em chácaras de recreio. Limeira transformou 105
propriedades em chácaras de recreio.
Até pouco tempo atrás eu iniciei um movimento contra o
avanço da especulação imobiliária na área rural, principalmente na bacia do
Pinhal. Quando questionei alguns produtores sobre o que aconteceria com aquela
área de fonte abastecimento de água potável para a cidade de Limeira, eles me
responderam que são favoráveis à instalação de indústrias pela oportunidade de
empregos para a área rural. Os produtores rurais estão com dificuldades em
manter a renda mínima.
Em 1972, aconteceu uma fase muito boa na citricultura e o
produtor ia até a loja “Batistton” fazer a encomenda de um novo trator e a
espera para a entrega era de até 01 ano e muitas vezes com a exigência da aquisição
de um implemento. Hoje, você visita uma propriedade e encontra o trator daquela
época, sem segurança de 30, 40 anos atrás. Os produtores que adquiriram terras
fora de Limeira conseguem manter as propriedades de Limeira. Os que
permaneceram estão com sérias dificuldades, fazendo “bicos” como pedreiros ou
faxineiras. Eu vejo com muita precaução a atividade rural no nosso município. O
produtor rural vai abandonar a profissão, vai vender a propriedade e em 03 anos
teremos outra realidade. Eu sou realista: o pequeno produtor rural está
resistindo sem renda mínima. Já o médio produtor mantém outras atividades além
da rural e aquela que estiver dando prejuízo será a primeira a ser vendida.
Jornal Pires Rural: O Sr. pode avaliar como foi o ano de
2008 para a agricultura?
João Santa Rosa: Foi um ano difícil. A crise americana nos
afetou com a alta nos preços dos fertilizantes, herbicidas, agrotóxicos com a
alta do dólar o que não garante que o produtor possa obter lucro na venda da
próxima safra. O fertilizante teve uma alta jamais esperada e o desafio é que
não tenhamos saudades de 2008.
Jornal Pires Rural: Qual é a sua orientação para os
produtores enfrentarem a grave situação?
João Santa Rosa: Reduzir o plantio (opinião pessoal). Na
hora em que a produção atingir números alarmantes, o governo federal terá que
tomar alguma providência. Queremos preço de custo, não preço mínimo, para que o
produtor não tenha prejuízo. Se o governo garantir a compra da saca de milho a
R$ 15,00 o mercado comprará por R$ 0,01 a mais.
Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos. Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…
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